A SUBIR
MARTA TEMIDO
Depois de ter sido ministra da Saúde, responsável pelo combate à pandemia, mas também com um lastro de enormes dificuldades no funcionamento do SNS, lançou-se numa candidatura europeia sem ser especialista em temas europeus. A batalha chegada ao fim, o resultado só pode ser considerado positivo. O PS venceu as eleições, Marta tornou-se, como Pedro Nuno Santos frisou, a primeira mulher a vencer uma eleição nacional em Portugal.
PEDRO NUNO SANTOS
O PS não é propriamente dado a grandes sobressaltos e lutas intestinas pelo poder na sequência de noites eleitorais, mas ainda assim a liderança de Pedro Nuno Santos estava de alguma forma a ser avaliada nestas eleições (mesmo que o seu cargo não estivesse diretamente em risco). Tinha perdido as eleições legislativas e o PS sofreu derrotas recentes na Madeira e Açores. O partido que lidera venceu pela primeira vez umas eleições nacionais, dando novo alento à sua liderança, mesmo que a vitória tenha sido poucochinha (a segunda mais curta da história).
JOÃO COTRIM FIGUEIREDO
Havia expetativa na noite eleitoral em relação à possibilidade de três forças políticas que estão fora do Parlamento Europeu elegerem eurodeputados: o Chega, o Livre e a Iniciativa Liberal. Destes, a IL foi a que saiu da noite de domingo com mais razões para subir, depois de ter passado de zero para dois deputados em Bruxelas. Cotrim confirmou nas urnas a boa campanha que fez. A vitória pode dar alento interno à IL, mas a imagem que fica é que o partido exportou o melhor quadro que tem (Rui Rocha assistiu de pé na primeira fila ao discurso de vitória, espera-se que tenha aprendido algo).
ANTÓNIO COSTA
Em novembro, deixou a liderança do Governo e afastou-se do PS, a braços com um caso judicial, a Operação Influencer. Agora, oito meses passados, e apesar do processo não estar formalmente encerrado (embora as suspeitas sobre o antigo primeiro-ministro continuem a parecer muito ténues), está lançadíssimo para tentar um cargo europeu. O próprio Luís Montenegro aproveitou o discurso da noite eleitoral para deixar claro que Costa, se avançar, contará com o apoio do Governo português. Marques Mendes fala mesmo numa ‘auto-estrada’ para que possa suceder a Charles Michel na presidência do Conselho Europeu - confiando que os resultados à escala europeia permitem que a distribuição dos top jobs na UE deixem para os socialistas esse lugar.
URSULA VON DER LEYEN
Há cinco anos, não era a candidata do PPE ao cargo europeu mais elevado, mas as prolongadas e complicadas negociações entre os diversos países levaram a que a conservadora alemã, antiga ministra de Angela Merkel, acabasse por assumir o cargo de presidente da Comissão Europeia. Depois disso, enfrentou crises dramáticas como a resposta à pandemia (primeiro sanitária, depois económica). O seu mandato foi positivo, mas as interrogações sobre se conseguiria ser eleita para mais cinco anos eram muitas, perante as perspetivas da subida da extrema-direita no Parlamento Europeu. Com os resultados deste domingo, e com o PPE a manter-se maioritário em Bruxelas, pode ter caminho aberto para mais cinco anos na Comissão.
COMISSÃO NACIONAL DE ELEIÇÕES
A eleição europeia do último domingo levantava duas enormes interrogações: qual seria a taxa de participação dos portugueses, por um lado. E de que forma iria decorrer a votação, dado que pela primeira vez era instituído o mecanismo do voto em mobilidade, permitindo a que cada eleitor votasse no ponto do país à sua escolha.
Conhecidos os resultados, deve realçar-se a participação eleitoral cívica dos portugueses (há muito tempo que umas Europeias não viam tanta gente a dirigir-se às urnas). E deve também ser realçado todo o processo de organização do processo eleitoral, em que entram a Comissão Nacional de Eleições bem como outros organismos. Correu tudo francamente bem e a pedir novos desenvolvimentos do sistema.
A DESCER
LUÍS MONTENEGRO
O líder do PSD e primeiro-ministro de Portugal tirou os holofotes de Sebastião Bugalho e assumiu ele o discurso, na noite em que, como sublinhou, o objetivo de ficar em primeiro lugar não foi atingido. Uma derrota é uma derrota e por isso mesmo Luís Montenegro surge aqui a descer. Mas esta é uma derrota que tem, efetivamente aspetos que permitem aos partidos da AD ter ânimo quanto ao futuro. Nota positiva ainda na intervenção de Montenegro para a forma clara como anunciou o apoio a uma candidatura de Costa a um cargo europeu.
ANDRÉ VENTURA
Algum dia teria que chegar e esse dia foi 9 de junho de 2024. O Chega, embora tenha conseguido eleger dois eurodeputados (até aqui não tinha nenhum), teve um resultado eleitoral claramente aquém das expectativas, não atingindo os dois dígitos e sendo a formação partidária que mais votos perdeu face às eleições legislativas de há três meses. A escolha do cabeça de lista, o embaixador Tânger Correia, não foi feliz, num partido que se habituou a candidatar André Ventura a tudo e mais alguma coisa. A interrogação que fica é saber se este resultado foi o início do esvaziar do balão, ou se se tratou apenas de um percalço.
CATARINA MARTINS
A aposta do Bloco na sua anterior líder para cabeça de lista era uma aposta alta. Aqui podemos olhar para o copo de diversas formas: havia sondagens que davam como tremida a eleição de um deputado sequer para o Bloco, e portanto conseguir eleger Catarina Martins é positivo. Mas outra forma é lembrar que o Bloco tinha uma forte representação em Bruxelas e perdeu um eleito nestas eleições. Nestas eleições, o BE ficou à frente da CDU mas representou menos de metade da IL.
JOÃO OLIVEIRA
Não há noite eleitoral em que os comunistas e a CDU não cantem vitória quando chega a altura dos discursos. Este domingo foi assim, a provar que há tradições que não mudam. Outra tradição que não mudou foi o mau resultado dos comunistas nas urnas. Perderam um eurodeputado (tinham tido sempre pelo menos dois em Bruxelas desde que Portugal aderiu). Apesar de se ter revelado um candidato forte e combativo, o discurso já não cola como noutros tempos.
FRANCISCO PAUPÉRIO
O cabeça de lista do Livre foi uma agradável surpresa na campanha, depois de ter sido uma surpresa para o próprio partido a forma como conseguiu ser eleito para cabeça de lista do Livre nas europeias, à revelia do que pretendiam as estruturas da formação liderada por Rui Tavares. O seu resultado na noite das europeias foi mesmo à tangente, com direito a ida ao VAR, mas o resultado é que o Livre fica de fora do Parlamento Europeu. Isto apesar de ter sido a única formação de esquerda a crescer nas urnas.
PAN
A campanha eleitoral de Pedro Fidalgo Marques fazia antever que o partido dedicado à causa ecologista e animal poderia ter neste novo rosto mais alguém para aparecer, de forma a que o partido não esteja sempre entregue a Inês Sousa Real. Mas o resultado nas urnas não pode ser considerado de outra forma, que não desapontante. Não só não elegem em Bruxelas, perdendo o eurodeputado que tinham, como ficam muito atrás de outras formações. Até ficaram atrás do ADN de Joana Amaral Dias. A ecologista e o animalismo podem estar na moda, mas o PAN terá que fazer algo rapidamente se não quer correr o risco de vir a desaparecer do mapa eleitoral.