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Obsessão com consensos, banalização do extremismo e nostalgia da RDA: breve história do sucesso da AfD

Nunca há só uma razão capaz de explicar um fenómeno político. O da extrema-direita parece de hoje, mas não é, nem em França nem na Alemanha, que, no rescaldo das eleições europeias, estão a ter de acomodar a realidade de que há muita gente a votar em partidos que antes se situavam nas esquinas bafientas da política. Na Alemanha, o muro que dividiu o país até aos anos 90 é visível no mapa da distribuição de votos. O que explica o novo ímpeto da extrema-direita no país com o mais negro passado da Europa?

Os dirigentes da Alternativa para a Alemanha, Alice Weidel e Tino Chrupalla, celebraram uma boa noite eleitoral
Ralf Hirschberger/AFP/Getty Images

Em maio, num debate na assembleia distrital de Sonneberg, no leste da Alemanha, sobre a integração dos refugiados no mercado de trabalho, Roland Schliewe, membro partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), afirmou que não se pode dar emprego aos norte-africanos porque têm QI baixo. A transcrição da reunião foi entregue à agência Reuters, que fez uma notícia sobre isso. Ainda assim, poucos dias depois, Schliewe foi reeleito.

No quadro geral, a AfD obteve 26% nas eleições locais no estado federado da Turíngia, mais oito pontos do que em 2019. Não chegou a ficar em primeiro lugar em nenhuma localidade, mas os ganhos dão espaço para que possa sonhar com uma boa prestação nas eleições de setembro para o governo regional, que decide muitas das políticas de cada Land alemão, incluindo a integração de migrantes.

Outro candidato da AfD na mesma região vendia clandestinamente parafernália do partido nazi e do Ku Klux Klan, e ninguém o impediu de concorrer ao cargo. Um dos nomes mais controversos do partido, Björn Höcke, condenado, em maio deste ano, por ter lançado, num comício político, um grito de guerra utilizado durante o período nazi pelas brigadas SS, quer ser governador da Turíngia. E vai concorrer, até porque é líder da AfD nesta parte da Alemanha.