Europeias 2024

Último debate para as europeias pôs todos contra ideias "racistas e xenófobas" do Chega

Os oito partidos com assento parlamentar debateram esta segunda-feira nas rádios e o tema central foram as imigrações, a reboque do Conselho de Ministros sobre o tema. Se nem todos concordam com novas regras sem que as atuais sejam totalmente implementadas, houve uma união contra o discurso “de ódio” de partidos de extrema-direita. O debate teve ainda tempo para que os candidatos defendessem que não deve haver uma leitura nacional dos resultados do próximo domingo.

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/Lusa

Com várias sondagens europeias a darem um crescimento sem precedentes de partidos conservadores e de extrema-direita, o debate nas rádios que juntou oito partidos com assento na Assembleia da República teve sempre esta ideia como pano de fundo e houve alguma união, mais ou menos assumida, de todos contra as ideias com “laivos de xenofobia e racismo”, como disse Cotrim de Figueiredo, do Chega. O tema das migrações, lançado no início do debate, acabou por mostrar o que divide cada partido sobretudo ao nível das políticas, mas também o que os une contra um partido que defende que não deve entrar nem mais um imigrante no país, como disse Tânger Corrêa (Chega), apesar de depois se desdizer.

O debate organizado pelas rádios de informação, Antena 1, Renascença, TSF e Observador, durou quase duas horas, mas foi na primeira parte que os candidatos às eleições europeias mais se interromperam e debateram as suas posições e criou uma aliança menos habitual com Catarina Martins (BE) e João Cotrim Figueiredo (IL) a assumirem as despesas do confronto contra as palavras de Tânger Corrêa. “É mentira”, ouviu-se ao fundo a bloquista dizer quando o candidato do Chega defendeu que o que é preciso é colocar as 400 mil pessoas que esperam regularização no mercado de trabalho. “Não podemos dizer num debate qualquer coisa e as coisas ficam a pairar como se fossem verdade", interrompeu Catarina Martins, para dizer que o que a extrema-direita faz é usar ideias “mentirosas” para “espalhar o medo” e com isso "insultar pessoas que estão no nosso país, que trabalham no nosso país e contribuem”, referindo-se ao facto de grande parte dos imigrantes à espera de regularização trabalharem e, portanto, não haver necessidade de os integrar no mercado de trabalho.

Catarina Martins
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

E neste ponto foi prontamente ajudada por Cotrim Figueiredo que acusou o Chega de fazer declarações com “laivos de racismo e xenofobia” ao propagar situações sem as enquadrar e colando a uma nacionalidade. “Associam este tipo de comportamentos a imigrantes”, mas “também há portugueses” que o fazem, disse, referindo-se a alegadas pressões de imigrantes a comerciantes em Vila Nova de Milfontes relatada por Tânger Corrêa. A bloquista entrou novamente no debate para dizer que o que devia ser feito era relatar o assunto às autoridades e foi dura dizendo que “o Chega é uma inutilidade” e que o partido passa a vida a espalhar o ódio.

João Oliveira (CDU) teve pena de não ter interrompido na altura e feito um trio com os restantes, mas minutos mais tarde entraria na roda para defender que “o discurso de ódio é um factor de insegurança e tem de ser combatido” e lembrou que era propagação leva a casos em que, por exemplo, “um candidato de um determinado partido” atirou sobre uma família de imigrantes. A história é de 2021 quando um candidato autárquico do Chega atirou contra uma família sueca, em Moura.

Cotrim de Figueiredo
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

No todos contra as ideias do Chega, entrou ainda Fracisco Paupério (Livre) que apontou o dedo à direita democrática que está a adoptar “um discurso perigoso” ao ligar “imigração e insegurança”. “Um discurso do medo” que passa a ideia errada que Portugal está de “portas escancaradas”, sintetizou o candidato do PAN, Pedro Fidalgo Marques.

A expressão “nem portas escancaradas nem fechadas” foi, aliás, usada amiúde na campanha das legislativas por Luís Montenegro. Esta segunda-feira ficará mais claro a que se referia uma vez que o Governo marcou mais um Conselho de Ministros especial (o terceiro em campanha) para apresentar medidas sobre as migrações.

Questionada sobre o que espera, a candidata socialista mostrou-se “preocupada” com o anúncio de um “apertar de regras” por parte do Governo. Para Marta Temido, regras mais apertadas só podem significar que o Governo se prepara para dar primazia a imigrantes qualificadas “desguarnecendo” vários “setores” da economia que precisam de imigrantes com menos qualificações, como no setor da restauração ou serviços sociais.

Uma declaração em oposição a Sebastião Bugalho que apesar de ser candidato pela AD tentou separar as águas dizendo que “o programa do Governo é do Governo". O candidato defendeu no entanto que “não há discurso de medo, mas também não pode haver medo de resolver os problemas” e que a intenção de acabar com a “manifestação de interesse” dos imigrantes para passar a haver a obrigação de um contrato de trabalho “pode ser útil para acabar com as redes ilegais”.

Uma ideia combatida por João Oliveira que defende que é preciso regularização com as regras “em vigor e não novas regras” porque quanto mais apertadas foram “mais se dificulta” a regularização e se ajuda “quem os explora”. Algo com que Paupério concorda uma vez que não tem dúvidas que “mais regras promove mais imigração ilegal”.

Sobre as regras, há aliás uma união de partidos da esquerda à direita contra uma visão mais restritiva ou uma alteração substancial do que está em vigor. Aliás, Cotrim de Figueiredo desconfia do anúncio do Governo porque defende que “não faz sentido novas regras sem as atuais estarem a ser cumpridas” e tanto Catarina Martins como Fidalgo Marques defenderam que é preciso é tratado já dos que cá estão pondo a AIMA a funcionar.

Questionada sobre o que espera, a candidata socialista mostrou-se “preocupada” com o anúncio de um “apertar de regras” por parte do Governo. Para Marta Temido, regras mais apertadas só podem significar que o Governo se prepara para dar primazia a imigrantes qualificadas “desguarnecendo” vários “setores” da economia que precisam de imigrantes com menos qualificações, como no setor da restauração ou serviços sociais.

Uma declaração em oposição a Sebastião Bugalho que apesar de ser candidato pela AD tentou separar as águas dizendo que “o programa do Governo é do Governo". O candidato defendeu no entanto que “não há discurso de medo, mas também não pode haver medo de resolver os problemas” e que a intenção de acabar com a “manifestação de interesse” dos imigrantes para passar a haver a obrigação de um contrato de trabalho “pode ser útil para acabar com as redes ilegais”.

Uma ideia combatida por João Oliveira que defende que é preciso regularização com as regras “em vigor e não novas regras” porque quanto mais apertadas forem “mais se dificulta” a regularização e se ajuda “quem os explora”. Algo com que Paupério concorda uma vez que não tem dúvidas que “mais regras promove mais imigração ilegal”.

Sobre as regras, há aliás uma união de partidos da esquerda à direita contra uma visão mais restritiva ou uma alteração substancial do que está em vigor. Aliás, Cotrim de Figueiredo desconfia do anúncio do Governo porque defende que “não faz sentido novas regras sem as atuais estarem a ser cumpridas” e tanto Catarina Martins como Fidalgo Marques defenderam que é preciso é tratar já dos que cá estão pondo a AIMA a funcionar.

Sebastião Bugalho e Marta Temido no debate das rádios
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Os representantes dos principais partidos, PS e AD, estiveram mais apagados neste debate. Aliás, apesar de as negociações entre Ursula von der Leyen e os grupos de extrema-direita serem um prato do dia na campanha do PS, essas acusações ficaram de fora deste debate. No campo das migrações, Marta Temido (PS) defendeu a política seguida pelo governo anterior e defendeu que é preciso ter atenção aos imigrantes não qualificados, como oposição a Sebastião Bugalho que defendeu a deste Governo e insistiu na sua ideia de mudanças no Pacto das Migrações para alterar a parte respeitante aos imigrantes qualificados, através do “Blue card”.

Marta Temido e Sebastião Bugalho não protagonizaram, aliás, um debate lateral como tinha acontecido em anteriores debates nas televisões. À entrada para a última semana de campanha, os candidatos procuram não cometer erros que sejam aproveitados pelo principal adversário e, ao contrário de outros debates, nem houve particular confrontação de ideias com Bugalho por parte de outros candidatos, mesmo à esquerda Ambos passaram “pelos pingos da chuva”, como referiu Cotrim em relação a Temido.

João Oliveira (CDU) e Francisco Paupério (Livre)
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Não às leituras nacionais e um recado para o dia seguinte

Por calculismo mas também por estratégia própria, os vários candidatos recusam uma leitura nacional destas eleições, apesar de ela estar presente a cada dia na estrada. Marta Temido diz que no PS, o “secretário-geral está resolvido”. “Não temos problemas para resolver lá em casa” dando como exemplo a presença de José Luís Carneiro na campanha, a que se juntará também Carlos César, presidente do PS, e António Costa. “Espero que sim”, disse a candidata do PS que diz que nunca deixou ficar mal o partido e que se esforçará para vencer as eleições.

Também Sebastião Bugalho não quer nacionalizar as eleições europeias e aproveita para deixar um recado para o Day after: “Não vamos pôr em causa o interesse nacional e a estabilidade política por causa destas eleições europeias”.

Certo é que a proximidade entre as legislativas e as europeias potencia esse contágio e pode fazer tremer lideranças. Não na IL, garantiu Cotrim de Figueiredo: “Se perder, deixo-me a mim próprio em maus lençóis, se ganhar deixo o líder do partido em bons lenções”. Não poderá voltar à liderança? “É algo que não desejo”, respondeu. No BE, também Catarina Martins diz que a liderança de Mariana Mortágua está segura não havendo culpas individuais, “somos um coletivo”, respondeu. No PAN, "correndo mal, será minha responsabilidade”, afirmou Fidalgo Marques tal como Paupério no Livre que esta semana contará com uma presença mais frequente de Rui Tavares na estrada.

Pedro Fidalgo Marques (PAN)
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Só quem admitiu uma leitura nacional foi João Oliveira que diz que os comunistas "não estão a tratar de um programa de governo, mas estão a tratar do país” nestas eleições e que na noite de domingo haverá uma leitura dos resultados. Sem mais.

O debate passou ainda por outros temas como o alargamento da União Europeia, mas sem grande novidade nas posições dos partidos. Marta Temido defendeu que não é possível o alargamento sem se falar também do orçamento e da busca de “recursos próprio” da União, e foi prontamente acusada por Cotrim de Figueiredo de querer mais “impostos” para que esse alargamento aconteça. “Não é verdade”, ainda respondeu Marta Temido, mas não mais se percebeu.

Sobre este tema houve uma união mais à esquerda contra a visão do liberal com Catarina Martins a usar uma comparação usada normalmente por João Oliveira ao dizer que a IL defende um sistema fiscal em que “um gigante tecnológico pague menos impostos que uma mercearia”.

Tânger Corrêa
ANTÓNIO PEDRO SANTOS

Os debates entre os candidatos terminaram com este encontro entre os oito. A campanha segue agora na estrada com uma presença frequente dos líderes partidários.