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Política

“Não é uma questão de racismo”, diz uma militante. “Nem mais um!”, grita a multidão. Chega junta centenas em manifestação contra a imigração

Manifestação contra a “imigração descontrolada” trouxe várias centenas de pessoas a Lisboa, muitas vindas de outros pontos do país. Enquanto uma parte dos participantes se esforça por explicar que é injusto colocar aos apoiantes do Chega o rótulo de racistas, e até dizem que toda a gente que queira trabalhar é bem-vinda, outros não escondem o que pensam. “Volta para a tua terra!” foi uma frase que se ouviu bastante. Duas senhoras de punho erguido e dedo médio intumescido levaram alguns apoiantes do Chega a um nível de irritação ligeiramente bizarro

Manifestação do partido Chega contra a “imigração descontrolada e insegurança nas ruas”.
Nuno Fox

— Vai para a manifestação?, pergunta-nos o condutor do carro que pedimos para nos levar à Alameda.

— Sim, mas em trabalho, como jornalista.

— É contra pessoas como eu a manifestação, não é?, pergunta Farid, bengali de 50 anos, residente em Portugal há sete. E ele mesmo responde:

— Eu sei que é. Vocês até podem fechar fronteiras, ou serem mais controladas, mas cuidado, portugueses, porque a economia não vai aguentar.

Assim que chegamos à Alameda D. Afonso Henriques, para onde está marcada a concentração da manifestação contra a “imigração descontrolada”, é esse o nome oficial, encontramos um grupo de Vila Nova de Gaia a conversar sobre os rótulos, injustos, dizem eles, que a comunicação social e “a esquerda” impõem aos apoiantes do Chega.

“Não é uma questão de racismo”

“Não é uma questão de racismo, é uma questão de sermos um país com recursos limitados, que não consegue suprir as nossas necessidades, quanto mais acolher bem os outros”, diz Marta Marques, 33 anos, que tem uma loja de eletrodomésticos em Vila Nova de Gaia, onde é sócia com o pai, que também aqui está este domingo. “Portugal também é um país de emigrantes, e nós precisamos de pessoas, mas só podemos recebê-los com condições, não é para virem para aqui e ficarem sem abrigo”, vai dizendo Marta.