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Da semana de quatro dias ao apoio à Ucrânia: o que une e separa o Livre da restante esquerda

O programa eleitoral do Livre, aprovado este domingo, mostra várias convergências com o Bloco e o PCP, mas também assuntos que separam os três partidos. “É mais o que une do que o que separa”, garante Jorge Pinto, cabeça de lista às legislativas pelo Porto

Rui Duarte Silva

O Livre foi o primeiro partido à esquerda a defender um acordo escrito entre os partidos – a chamada “eco-geringonça” –, caso o resultado das eleições legislativas seja favorável à esquerda sem maiorias absolutas. Agora, falta convencer os restantes partidos. Os programas eleitorais dão o primeiro passo em frente e mostram as potenciais convergências e divergências entre os partidos. Entre o Livre, o Bloco de Esquerda e o PCP há várias áreas que se tocam – como as leis laborais, educação ou saúde –, mas também outras que podem dificultar as negociações como as questões de política externa. Contudo, as pontas finais só poderão ser atadas quando o PS também apresentar o seu programa.

As maiores aproximações entre os programas eleitorais já conhecidos – Livre, Bloco e PCP – estão em propostas como o aumento do salário mínimo, embora em velocidades diferente, a consagração da semana de quatro dias, as 35 horas semanais ou a reposição integral do tempo de serviço dos professores.

Por outro lado, o Livre classifica-se como um partido europeísta tendo visões de política externa diferentes dos restantes partidos à esquerda. Por exemplo, um dos objetivos principais do partido de Rui Tavares centra-se a manutenção do apoio à Ucrânia. Tendo em conta a visão dos comunistas quanto ao conflito – que é contra a “política belicista” da União Europeia e da NATO –, esta poderá ser uma das dificuldades nos entendimentos à esquerda, caso os resultados eleitorais e os partidos concordem em sentar-se à mesa das negociações.

“As negociações vão demorar possivelmente muito tempo, mas sabemos que são mais os pontos de contacto do que os pontos de diferença e onde houver diferenças trabalharemos sobre elas. É também por isso que é importante o Livre ter a maior representação possível para ter mais força negocial”, explicou ao Expresso Jorge Pinto, cabeça de lista às legislativas pelo Porto. Com “pilares” bem definidos – dos quais fazem partes temas como a liberdade, o direito ao tempo, a Europa ou a ecologia –, o Livre acredita que pode haver margem negocial para entrarem num futuro entendimento. “Nestas áreas há muito por onde chegar a acordo com as outras forças progressistas. O resto dependerá da nossa força negocial, das próprias negociações e da força dos outros partidos”, resume.

Depois de Rui Tavares ter avisado os partidos à esquerda de que “não é preciso inventar a roda” quanto a acordos pós-eleitorais, também Jorge Pinto mencionou a solução governativa espanhola como um exemplo a ser replicado. “Vimos em Espanha uma mobilização da esquerda nas suas diferenças que permitiu que se formasse Governo perante a ameaça muito concreta de ter a extrema-direita a governar, pela primeira vez. É isso que o Livre espera que aconteça em Portugal”.