Política

"O neoliberalismo tomou conta do maior partido da oposição", acusa secretário-geral adjunto do PS

Num painel na academia de rentrée socialista, João Torres fez uma análise histórica para concluir que o PSD entrou numa deriva “neoliberal” e a Iniciativa Liberal tornou-se num partido “neoliberal radical”. Perante jovens socialistas, acusou a direita democrática de contribuir para o fim do estado social e, consequentemente, da democracia

O secretário-geral adjunto do PS acusa o PSD de ter entrado, na última década, num “aventureirismo neoliberal" com uma “obsessão privatizadora”, e atacou a Iniciativa Liberal por ser “neoliberal radical”. “Hoje, o neoliberalismo tomou conta do maior partido da oposição", disse João Torres, afirmando que quem não defende a natureza pública do estado social não defende a democracia.

Numa intervenção intitulada "Porque não há democracia sem estado social", no âmbito da Academia Socialista que decorre em Évora, o deputado e secretário-geral adjunto do PS rejeitou que o PS tivesse algum “complexo” com a iniciativa privada, mas foi muito crítico do que diz ser uma deriva neoliberal da direita portuguesa, que, no limite, prejudica a democracia.

“Sempre que, ao longo dos últimos anos, reforçamos o estado social, encontrámos sempre o voto contra da direita, que nunca quis fazer parte da solução, e quis sempre posicionar-se como parte do problema”, começou por dizer, depois de ter feito uma resenha história do discurso de Franklin Roosevelt, em 1941, que serviria de base à declaração dos direitos humanos e que Mário Soares citaria na fundação do PS, onde o ex-presidente norte-americano deixa claro que só há democracia plena quando quatro liberdades estiverem asseguradas: liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade de bens e recursos materiais e liberdade em relação ao medo. “Quem vive na penúria ou na insegurança permanente não pode ser verdadeiramente livre”, disse, afirmando que essas quatro liberdades só estão asseguradas com um estado social forte.

Para João Torres, é essa permanente defesa do estado social que move o PS, nomeadamente quando aumenta o salário mínimo, quando promove a gratuitidade dos manuais escolares ou das creches, quando defende a devolução da propina (anunciada esta semana por António Costa) ou quando defende uma política pública de habitação.

E foi esse "compromisso não escrito" com o estado social que prevaleceu nas primeiras décadas da democracia que, segundo o dirigente socialista, a direita democrática “quebrou” nos últimos anos - sobretudo “ao longo da última década”. “Hoje, é impossível que um partido como o PSD ou a IL formulem uma ideia que seja para reforçar o nosso estado social sem falar de privatização iniciativa privada ou enfraquecimento da natureza pública do estado social”, disse, rejeitando, no entanto, que o PS tenha qualquer “complexo com o setor privado”. “Temos é uma análise crítica sobre a melhor distribuição da riqueza”, disse.

E passou ao ataque: “O neoliberalismo tomou conta do maior partido da oposição, e a Iniciativa Liberal é a iniciativa neoliberal radical”, disse, sublinhando que “todos sabemos como terminaria o aventureirismo da direita em áreas como a saúde a educação ou a segurança social; terminaria com o fim do estado social”. E “sem estado social não há democracia”.