Política

Tempestade Perfeita: Chega e IL voltam a pedir a demissão de Cravinho, PSD insiste que Costa “deve explicações” ao país

André Ventura anunciou que o Chega irá pedir a audição “urgente” do ex-ministro e da atual ministra da Defesa no Parlamento, em setembro

MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

A Iniciativa Liberal (IL) e o Chega voltaram a pedir esta quinta-feira a demissão de João Cravinho do Governo, na sequência da acusação do MP no caso que investiga negócios no Ministério da Defesa. O partido de André Ventura anunciou ainda que chamará o ministro “de urgência” ao Parlamento, em setembro. Já o PSD mantém que o ministro está “irremediavelmente e fatalmente diminuído” e o primeiro-ministro deve explicações ao país.

A IL disse desde o início da legislatura que João Gomes Cravinho não tinha condições para estar neste elenco governativo. Não tinha e a cada dia que passa fica mais evidente que não tem”, diz ao Expresso Rodrigo Saraiva, líder parlamentar da IL.

No final de julho, Saraiva já defendia que era insustentável o governante - atual ministro dos Negócios Estrangeiros, mas ministro da Defesa até março de 2022 - manter-se no Executivo sob várias suspeitas, numa altura em que Cravinho representa o país nos “palcos multilaterais”, sobretudo, no atual contexto de guerra na Ucrânia. Para o líder da bancada dos liberais, não há outra opção para António Costa além da exoneração do atual ministro dos Negócios Estrangeiros, uma vez que está em causa a “dignidade” do Estado português.

Também o líder do Chega, André Ventura, insistiu na demissão de Cravinho, após serem conhecidos os detalhes da acusação do processo “Tempestade Perfeita”, relacionado com adjudicações de obras pela Direção-Geral dos Recursos da Defesa Nacional (DGRDN). “Tivemos conhecimento em detalhe da acusação que o Ministério Público (MP) levou a cabo na operação Tempestade Perfeita. Esta acusação - sendo um caso de Justiça que deve ser resolvido na Justiça - não pode deixar de ter implicações políticas. E essas implicações são evidentes”, defendeu André Ventura num vídeo enviado às redações.

Segundo o presidente do Chega, há três factos “particularmente importantes” que apontam para as responsabilidades de Cravinho neste caso: “a maioria das obras, empreitadas dos serviços suspeitos decorreram durante o mandato de João Cravinho à frente da Defesa", sendo que o atual ministro dos Negócios Estrangeiros, foi na altura “absolutamente negligente na forma como tratou a pasta” e as “ligações de Alberto Coelho aos vários negócios” que já então eram suspeitos.

O segundo ponto é que o ministério da Defesa permitiu que se desenvolvesse no seu seio “uma teia, um polvo" que só agora a Justiça conseguiu começar a desatar, e, por último, é que tudo “passou completamente ao lado do controlo” que se exigia, mesmo após alertas do Tribunal de Contas (TdC). “Um conjunto de pessoas, empresas e responsáveis envolvidos não deixam dúvidas. Isto não se circunscreve apenas a um ministério, é um caso absoluto de negligência política do Governo”, reforçou Ventura.

Acusando o ex-ministro da Defesa de ser o “principal responsável” pelo conjunto de factos criminosos que constam da acusação, o Chega anunciou que irá chamar “de urgência” João Cravinho ao Parlamento, assim como a atual ministra da Defesa, Helena Carreiras, no recomeço da sessão legislativa, já em setembro.

Por sua vez, o deputado do PSD Jorge Paulo Oliveira reitera que o ministro está “irremediável e fatalmente diminuído”, devendo o primeiro-ministro explicações ao país. “A nossa posição mantém-se, esta acusação só reforça a obrigação moral e política de o primeiro-ministro dar explicações aos portugueses. O PM deve uma palavra ao país”, afirma ao Expresso o coordenador da bancada social-democrata na comissão de Defesa.

“Se estava irremediavelmente diminuído, para nós continua irremediavelmente diminuído na sua autoridade. Compete ao PM fazer essa avaliação e afastar o ministro se for esse o caso. Pode entender também que tem condições para o ministro se manter, mas terá que explicar ainda assim porque mantém a confiança em João Cravinho", acrescenta.

Na quarta-feira, Helena Carreiras defendeu que a acusação do MP contra 73 arguidos no processo “Tempestade Perfeita” prova que a “Justiça está a fazer o seu trabalho”. Sem querer comentar o processo, a ministra garantiu ainda que está a ser feito tudo para não se repetirem casos no futuro.

Entre os arguidos encontra-se Alberto Coelho, ex-diretor-geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN), acusado dos crimes de de corrupção passiva, branqueamento, peculato e falsificação de documento, assim como dois ex-altos quadros do Ministério da Defesa, Paulo Branco e Francisco Marques. Já o ex-secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira, não consta do processo.