Dúvidas houvesse, ficaram arrumadas esta segunda-feira: Mariana Mortágua é candidata a coordenadora do Bloco de Esquerda, na lista mais do que provável vencedora da convenção do partido, marcada para 27 e 28 de maio. “Estou aqui para apresentar a moção que mais de 1300 ativistas vão levar à convenção do Bloco de Esquerda.” Por escolha desse grupo, confirma Mortágua, “sou candidata à coordenação”.
A conferência de imprensa da provável futura líder do Bloco começou com elogios para a antecessora. “Este percurso tem a marca de Catarina Martins”, que “abriu novos caminhos e criou confiança”. “A Catarina Martins foi a melhor líder em tempos tumultuosos” e “vai continuar a marcar-nos com a sua consistência e a sua força”, garantiu Mariana Mortágua, embora, mais à frente, tenha lembrado que não pode “responder por Catarina Martins” a propósito da continuidade, ou não, da futura ex-líder como deputada.
Na sede, na Rua da Palma, em Lisboa, estavam alguns dos principais dirigentes do Bloco, como Luís Fazenda, Marisa Matias, José Gusmão, Jorge Costa, Fabian Figueiredo ou a irmã da candidata, Joana Mortágua. Catarina Martins não estava, mas mostrou apoio logo nos minutos seguintes à comunicação de Mariana, através do Twitter.
Para Mariana Mortágua, o momento de avançar foi ditado por duas certezas. A primeira, que os bloquistas têm repetido, é que o ciclo político mudou, porque a maioria absoluta está ferida por políticas que aumentaram “as desigualdades e o empobrecimento”. “A segunda certeza é que as razões do nosso percurso até aqui se confirmam”, ou seja, descolar do PS e votar contra o Orçamento do Estado para 2022, que levou à queda do Governo, foi a melhor decisão, considera o Bloco. “Contamos com todas as pessoas que sentem que maioria absoluta do PS desistiu.”
Numa apresentação de pouco mais do que 15 minutos, Mariana Mortágua foi visando os alvos habituais, PS e direita. E a relação que o Bloco considera estratégica dos socialistas perante o Chega.
“Espero que António Costa oiça bem”, visou Mortágua, “não basta pôr um espantalho à porta”. Leia-se: apontar o Chega como principal inimigo e o PS como principal travão. Essa é “a política do medo”.
É uma ideia em que o Bloco tem carregado desde as últimas eleições: o PS só chegou à maioria absoluta por ter feito “chantagem” com o eleitorado e com a ameaça da extrema-direita. E essa estratégia socialista tem permanecido. Em entrevista ao Expresso na última edição, Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco e apoiante da candidatura de Mortágua, repetiu-a. “O PS tem ajudado muito a extrema-direita.”
A escolha do eleitorado, portanto, não é “entre o mau e o pior”, disse Mortágua. Por exemplo? “A escolha não é entre a degradação do SNS que o PS tolera e a privatização do SNS que a direita promove.”
“Queremos um país justo, com respeito por todas as pessoas”, insistiu. E por isso, quando lhe perguntam se é candidata, “respondo que sim, porque quero fazer todas as lutas, as que enchem e dão significado à democracia”.
A caminho dos 37 anos, Mortágua vai provavelmente ver chegar o seu momento de liderar o partido, pré-anunciado quase desde que se tornou um dos rostos principais do partido, ainda no Governo Passos Coelho, nas comissões de inquérito ao caso BES. E com mais vigor desde que Francisco Louçã, um dos fundadores, primeiro e mais duradouro líder do Bloco, a apontou como protagonista dentro e fora do partido.
ESCOLHA FOI “PONDERADA”, CRÍTICOS INTERNOS APRESENTAM MOÇÃO ALTERNATIVA
Para as 15h está prevista a apresentação da moção “Um Bloco plural para uma Alternativa de Esquerda – um desafio que podemos vencer!”. A conferência de imprensa deste grupo de militantes da moção E, dos quais fazem parte o capitão de Abril e ex-deputado da UDP Mário Tomé e os ex-deputados do Bloco Carlos Matias e Pedro Soares, está também marcada para a sede do partido em Lisboa.
Sobre isso, Mariana Mortágua respondeu que “é bom”. “Significa que vamos ter uma convenção com debate político” e, portanto, “devemos congratular-nos por haver democracia interna. O Bloco só pode crescer com isso”.
Já quanto à decisão de avançar como primeira subscritora da moção da direção, Mariana Mortágua disse apenas que “as decisões são tomadas de forma ponderada e preparada”, sempre apontando ao “coletivo”. “Conto com todos e todas as militantes do Bloco.”