Política

Rio insiste: quem deteve Rendeiro “foi a polícia sul-africana”. E o diretor da PJ “fez um foguetório para beneficiar o PS”

Numa entrevista à RTP, líder do PSD diz que foi que treslido no tweet sobre a detenção de Rendeiro. Mas mantém a crítica: o diretor da PJ, "nomeado pelo Governo", aproveitou o trabalho de outra polícia para beneficiar o Governo. E foi mais longe: admitiu ter existido gestão política de processos no passado; e diz que "a justiça deixou prescrever uma série de crimes de ex-governantes do PS e não os pode acusar. Vão fazer uma conferência de imprensa sobre isto?"

MIGUEL A. LOPES/Lusa

Rui Rio sorriu enquanto ouvia o jornalista da RTP, que o entrevistou esta terça-feira, enquanto este lia o seu tweet que deu polémica no domingo passado. Sorriu e, depois, devolveu a pergunta ao jornalista: “Mas quem é que encontrou e deteve o dr João Rendeiro?” Rui Rio perguntou e respondeu: "Foi a polícia sul-africana", não a PJ. Com isso queria dizer que tinha sido mal interpretado quando disparou sobre as várias entrevistas que o diretor da PJ deu no sábado, depois da detenção de Rendeiro.

"Não sei se é mais tonto quem pudesse dizer isso ou quem acha que está dita uma coisa dessas", quis explicar o líder do PSD, frisando que o seu post na rede social "tem aí uma ironia". Uma não, duas: "Também digo que [o diretor da PJ] tem o dom da ubiquidade" quando deu várias entrevistas ao mesmo tempo.

Mas se Rio se disse mal interpretado no contexto, manteve totalmente a crítica: "A ironia e crítica que se faz é ao diretor da PJ, que é um cargo de nomeação do Governo, ter aproveitado a detenção da polícia sul-africana para fazer um foguetório e conseguir com isto beneficiar indiretamente o PS", disparou o líder do PSD. E insistiu: "Se não houvesse eleições, o diretor da PJ não andava de canal em canal, tumba, tumba, tumba. Quando o dr Rendeiro fugiu ele também andou a correr as televisões?".

Por isso, concluiu Rui Rio, "há divórcio entre a opinião publicada e a opinião pública". É que, assegura, "a opinião pública sabe que estou a criticar o diretor da PJ por ter feito uma festa de uma coisa que até tem alguma normalidade".

Mas as críticas só tinham ainda começado. Se primeiro foi para o diretor da PJ, depois foi sobre o Ministério Público (embora Rio não tenha separado os dois, nem anotado que o segundo é independente de nomeação política) e ainda sobre o Banco de Portugal (que não nomeou), ou mesmo sobre o Governo: "Não conseguiram prender o senhor, nem dissolver o banco, nem indemnizar os lesados - e depois fazem uma festa de todo o tamanho porque há eleições". Numa só frase, Rio misturou tudo e todos, disparando sem olhar a quem. E voltou a disparar: "Isto no mesmo momento em que a mesma justiça deixou prescrever uma série de crimes de ex-governantes do PS e não os pode acusar. Vão fazer uma conferência de imprensa sobre isto?". Mais à frente, o alvo ficou mais claro: "O Ministério Público não foi suficientemente diligente e deixou prescrever. Fosse acusação ou arquivamento. Prescreveu, está safo".

Vítor Gonçalves, o jornalista da RTP, insistiu com Rio, que voltou a recusar as críticas: "Mas onde é que eu desvalorizei? Daqui por um bocado digo que está tudo doido". Recusou e insistiu nelas: "Quando ele fugiu a PJ quanto muito deu um comentário", vincou para sugerir que a justiça (que é diferente da PJ, embora isso não tenha sido referido), "deve ser serena e contida, não deve dar este espetáculo. Como não achei bem andarem a vender a fotografia do senhor em pijama" - disse ainda, não explicando que a foto foi tirada, aí sim, pela polícia de África do Sul e que a prática tinha já sido criticada pela PJ portuguesa.

Para Marcelo, que criticou o tweet de Rio no domingo, o líder do PSD deixou uma palavra mais contemporizadora: "Se eu tivesse dito o que lhe disseram que eu disse, que a PJ escolheu um dia para fazer a detenção, estava certo. Mas o PR nem deve ter lido o meu tweet".

Para a PJ portuguesa, ficou só meio elogio: se foi a polícia de África do Sul que deteve Rendeiro, "a PJ foi dando os passos para conseguir localizar e prender".

Mas para a justiça (no geral) voltou a haver um apontar de dedo, quando Rio foi questionado sobre se achava que havia gestão política de alguns casos judiciais e investigações: "Todos ouvimos que houve em vários processos uma gestão política. Se houve ou não, nem o senhor sabe nem eu sei", começou por dizer. Mas depois acrescentou: "Caso a caso não conheço. De um modo geral, admito que possa ter acontecido no passado, nos últimos anos."

Mas Rio recusa defender um maior controlo da justiça, mesmo quando defende mais políticos nos conselhos superiores: "O que defendo é menos opacidade, mais controlo democrático da justiça", explicitou. Para rematar: "O povo percebe mesmo o que eu quero dizer."