Ambos querem pôr a economia a crescer para subir salários, ambos querem reduzir impostos (sem choque fiscal) e ambos querem fazer reformas (não necessariamente as mesmas) para contornar a morosidade da justiça. Querem acabar com preconceito ideológico na saúde e melhorar o funcionamento do SNS. Querem fazer alterações no sistema de ensino, ampliar a rede gratuita de creches e pré-escolar, dar mais autonomia às escolas e valorizar a carreira dos professores. Combate à corrupção é prioridade dos dois, ambos querem maior especialização dos magistrados - mas Rangel vai mais longe num ponto e propõe a criação de uma “uma agência anticorrupção".
Com críticas a um e a outro, e com avaliações negativas da governação de esquerda, é na estratégia política e eleitoral que os dois mais divergem: enquanto Paulo Rangel diz que o PSD deve lutar por uma "maioria absoluta" ou uma "maioria estável" aberta aos parceiros naturais do PSD (CDS e IL), Rio não ousa pedir essa maioria absoluta e defende que é ao centro que se vão decidir as próximas eleições. Rio bate-se por uma "maioria sem linhas vermelhas" e assente no diálogo com todas as forças políticas "moderadas", enquanto Paulo Rangel recusa apenas dois cenários: um bloco central formal e uma aliança de qualquer espécie com o Chega. O diálogo futuro com o PS se disso depender a governabilidade do país é omitido da equação.
Apostado em "unir" o partido, Paulo Rangel arrisca também noutras propostas: debater a ideia de primárias no partido (com a decisão sujeita a referendo interno) e criar uma comissão de Ética para avaliar a integridade dos candidatos a deputados e a autarcas que dão a cara pelo PSD.
Na forma são dois textos muito diferentes: a moção com que Rui Rio se apresenta a votos junto dos militantes do PSD é mais concisa, com apenas 18 páginas, e remete o detalhe das propostas para o programa eleitoral do PSD de 2019 e para o trabalho que tem vindo a ser feito no Conselho Estratégico Nacional do partido; já a moção de Paulo Rangel tem mais de 60 páginas e, sendo um "diagnóstico e visão" do eurodeputado, é uma espécie de pré-programa eleitoral do PSD se Paulo Rangel for eleito líder no próximo sábado. Se a moção de Rio se intitula "Governar Portugal", depois de 4 anos enquanto líder da oposição, a de Rangel chama-se "Portugal: Ambição e Esperança", e reflete a mudança de tom que o challenger quer imprimir.
Ponto por ponto, vamos às diferenças e semelhanças de programa e de estratégia entre os dois candidatos à liderança do PSD, que se defrontam nas urnas este sábado.