A presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, revelou em entrevista à rádio Renascença que “tem tido boa recetividade por parte da Galp” para que “uma parte” (cerca de 40 hectares) do terreno da refinaria recentemente desativada venha a ser “cedida” para nele ser instalado um polo de investigação da Universidade do Porto, ligado à ciência da energia e do mar.
A autarca e futura presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) diz que “a relação” que têm com a Galp “mudou”, que há uma “atitude de proximidade e de diálogo” e que “está a ser feito um masterplan onde se prevê todas estas finalidades e potencialidades. Luísa Salgueiro também revela ter ouvido o novo CEO da petrolífera, Andy Brown, “a admitir que o processo de Matosinhos foi mal conduzido” e reforça que “houve um grande desrespeito pelos trabalhadores e pelas pessoas” na forma como foi decretado o fecho da refinaria. Recorde-se que o anúncio do fecho da refinaria da Galp foi feito a 20 de dezembro de 2020, em vésperas de Natal.
Para ajudar os trabalhadores despedidos, Luísa Salgueiro, informa que a Câmara criou um “gabinete de apoio aos funcionários da Galp”, que está a fazer um “acompanhamento personalizado” dos trabalhadores residentes em Matosinhos que os contactam. Para lhes prestar apoio, como já tinha anunciado, vão recorrer ao fundo de transição justa criado para atenuar os impactos da descarbonização da economia.
Na entrevista, a presidente da Câmara de Matosinhos garante que “o cenário de instalação naquele local de uma refinaria de lítio tem vindo a ser afastado e temos estado a trabalhar com os parceiros, incluindo com a Galp, no sentido de encontrar outra solução”. E que foi criado “um conselho consultivo”, constituído por instituições e individualidades e empresas do sector, e um conselho científico, que inclui a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a Faculdade de Economia e o INEGI (Instituto de Ciências e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial) para assessorarem o município na tomada de decisões. Segundo a autarca, o fecho da refinaria representa “um impacto de 222 milhões de euros negativos” para o concelho.
Quando questionada sobre a possibilidade de especulação imobiliária nos terrenos, afirma: “Neste momento o que está em curso é um trabalho de relação com a Galp que não visa a instalação de um projeto imobiliário”. Explica que o que está previsto no Plano Diretor Municipal (PDM) é uma área para empresas e serviços. Contudo, também assume que haverá “10 por cento de possibilidade de habitação”.
Na entrevista, a autarca - que deverá ser eleita presidente da Associação Nacional de Municípios em dezembro - aproveitou para apontar Marcelo Rebelo de Sousa como “um obstáculo” à regionalização e lembrar que “o Presidente da República é o garante do normal funcionamento das instituições, mas não é o órgão executivo, não lhe compete decidir”. E que terão de “convencer o senhor Presidente da República a aderir às propostas que a Assembleia da República e o executivo proponham”. Luísa Salgueiro sublinha ainda que os municípios não estão “satisfeitos com as transferências feitas ao nível financeiro para as Câmaras”.