Augusto Santos Silva soube da Operação Miríade pela imprensa e não só desdramatiza que assim tenha sido como não vê também qualquer problema no facto de o ministro da defesa, João Gomes Cravinho, não ter informado também o primeiro-ministro sobre o caso de tráfico de diamantes, ouro e droga que envolve militares portugueses na República Centro-Africana.
Problemas de comunicação no interior de um Executivo que está agora na reta final? O chefe da diplomacia diz que não. “Não há nenhum problema de comunicação dentro do Governo”, respondeu aos jornalistas em Bruxelas, no final de uma reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros.
E nega também falhas na comunicação entre São Bento e Belém, onde Marcelo também ficou a saber da polémica e da investigação através da comunicação social.
"Também não há nenhum problema de comunicação entre o Governo e o Presidente da República", garante o ministro, afastando nova tensão entre Marcelo, Costa e Cravinho. Ainda em setembro, o Presidente viu-se obrigado a desmentir a saída do atual Chefe do Estado Maior da Armada, desautorizando o ministro da Defesa na exoneração do almirante Mendes Calado, para nomear o vice-almirante Gouveia e Melo.
"Não me lembro de nenhum Governo, e já fiz parte de vários, em que a relação institucional com o Presidente da República (...) fosse tão fácil e tão conforme com a boa prática constitucional e as regras de cortesia e de solidariedade entre órgãos de soberania", diz Augusto Santos Silva.
Já esta quarta-feira, o líder do PSD, Rui Rio, considerou ser "particularmente grave" que um ministro não informe o primeiro-ministro "de uma situação desta delicadeza", deixando o "Governo mal perante Presidente da República".
Questionado sobre a gravidade desta falha e as críticas que se ouvem da oposição, Santos Silva opta por sorrir e justifica que o informação tenha ficado guardada no Ministério da Defesa com "o segredo de Justiça".
“Nós temos uma forma de comunicar as questões que nos são colocadas e que devemos partilhar, que é conforme também a algumas regras básicas de um Estado de direito, uma delas sendo o segredo de Justiça”, argumenta.
PSD e Bloco de Esquerda pediram a audição urgente de Gomes Cravinho na Assembleia da República sobre as suspeitas de envolvimento de militares portugueses numa rede criminosa. O PCP anunciou esta quinta-feira que viabiliza o pedido. O ministro já se mostrou disponível para responder às perguntas dos deputados.