Política

Operação Miríade. PSD e PCP alertam que caso tem impacto na imagem das Forças Armadas

Ana Miguel dos Santos, deputada do PSD, considerou que as Forças Armadas são "uma ferramenta importante como instrumento de política externa, porque são a face visível do país no estrangeiro" e diz querer acreditar que esta foi uma situação única e circunscrita, mas apontou que o caso "tem um impacto internacional significativo"

EUTM-RCA

PSD e PCP defenderam esta terça-feira que as suspeitas de tráfico por militares portugueses na República Centro-Africana têm impacto na imagem das Forças Armadas, com PS a defender que o caso não mancha o prestígio reconhecido às missões internacionais.

Na reunião da comissão parlamentar de Defesa Nacional, que debateu o relatório do envolvimento dos contingentes militares portugueses no estrangeiro relativo ao primeiro semestre de 2021, a deputada do PSD Ana Miguel dos Santos considerou que as FA são "uma ferramenta importante como instrumento de política externa, porque são a face visível do país no estrangeiro".

Relativamente às suspeitas que vieram a público sobre o envolvimento de militares portugueses em tráfico de diamantes, ouro e estupefacientes, a social-democrata diz querer acreditar que esta foi uma situação única e circunscrita, mas apontou que o caso "tem um impacto internacional significativo", admitindo que a imagem de prestígio das Forças Armadas pode ter ficado, de alguma forma, beliscada.

A deputada considerou ainda importante que o ministro da Defesa Nacional esclareça que mais foi feito para além da denúncia às autoridades competentes e à ONU e como pode garantir que situações semelhantes não se voltem a repetir, "para não ficar a ideia de que nas FA existe um vazio de fiscalização".

Já o deputado António Filipe, do PCP, considerou que "não é possível dizer com seriedade" que esta situação "não afeta a imagem das FA".

Na opinião do deputado, uma coisa é dizer que é uma situação excecional, ou até mesmo que foram feitas as denúncias adequadas, outra é afirmar que não afeta esta imagem, uma vez que estão em causa "suspeitas muito graves".

O comunista considerou que "mau serviço ao país e às Forças Armadas é procurar estar a desvalorizar algo que aconteceu, porque estão em causa casos da maior gravidade".

Pelo PS, o deputado Diogo Leão considerou que o relatório em causa "mostra bem como Portugal, através da participação das suas Forças Armadas contribui ativa e significativamente para a paz e segurança internacionais".

Na opinião do socialista, não são "quaisquer casos excecionais, totalmente anormais como o que veio a público ontem [segunda-feira]" -- que para Diogo Leão devem ser investigados "até às últimas consequências" - que vão "de todo manchar o enorme prestígio das FA nas várias missões em que participa".

O deputado destacou ainda a "irrepreensível atividade cívica" de todas as entidades envolvidas na denúncia destas suspeitas, desde o comandante da 6ª Força Nacional Destacada até ao ministro da Defesa Nacional.

O deputado João Vasconcelos (BE) defendeu que devem ser apuradas "todas as responsabilidades até ao fim", aproveitando para criticar a participação do país em algumas destas missões, nomeadamente na RCA.

Já no final do debate, o presidente da comissão, o deputado Marcos Perestrello, considerou que esta matéria tem "profundos impactos na imagem das FA e na imagem externa do país" mas pediu "apreciações cautelosas" sobre o caso.

A Polícia Judiciária (PJ) confirmou em 08 de novembro a execução de 100 mandados de busca e 10 detenções, incluindo de militares e ex-militares, no âmbito da Operação Miríade, na sequência de um inquérito dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa.

Em causa está a investigação a uma rede criminosa com ligações internacionais e que "se dedica a obter proveitos ilícitos através de contrabando de diamantes e ouro, tráfico de estupefacientes, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas informáticas".

Em comunicado, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) revelou que alguns militares e portugueses em missões na República Centro-Africana podem ter sido utilizados como "correios" no tráfego de diamantes, adiantando que o caso foi reportado em dezembro de 2019.