É uma figura de contrastes: um erudito que gosta de heavy metal, um católico que assume a homossexualidade, um intelectual racionalista que se deleita com o efeito emotivo e mediático do soundbite. Apesar de contraditório, Paulo Rangel tem mantido posições, ao longo dos anos, numa série de matérias que agora está a recuperar como base doutrinária da campanha interna. O eixo central da sua comunicação, o “elevador social”, já tinha sido desenvolvido em três artigos no “Público”, entre abril e maio de 2016, imediatamente a seguir ao Congresso do partido em que Pedro Passos Coelho passou oficialmente de primeiro-ministro derrotado à oposição. Como ex-candidato à liderança e reserva do partido, Rangel apontava então o caminho que o PSD devia seguir naquela nova fase, sem se assumir exatamente como alternativa. O título dos textos — que foram das suas crónicas mais doutrinárias — era, afinal, uma semente para o futuro e parece um esboço do discurso de candidatura da semana passada: “Mobilidade social: um desígnio pós-troika.”
Passados cinco anos, os três artigos não envelheceram mal e guardaram as ideias-mestras do candidato. Naquele ano de fundação da ‘geringonça’, Rangel já classificava o PSD como “um partido com vocação maioritária, que aspira à maioria absoluta, ou, quando isso não seja possível, à liderança de Governos de coligação maioritária”, como replicou agora na sua primeira entrevista, à TVI, em que assumiu a possibilidade de uma votação na ordem dos 42% ou 43%. E distanciava-se do passismo puro com uma frase hábil, que agora repete: “O PSD tem um ímpeto liberalizador — que não é o mesmo de um ímpeto liberal.”