A política portuguesa em geral, e a autárquica em particular, tem propiciado ao longo dos anos uma série de casamentos à partida improváveis, mas cujos cônjuges se tornam de tal forma indissociáveis que é como se a união tivesse sido escrita pelos deuses na aurora dos tempos. A ligação, pelas razões trágicas conhecidas, de Francisco Sá Carneiro a Camarate, as associações, por outros motivos, de Cavaco Silva a Boliqueime, de Passos Coelho a Massamá e de José Sócrates à mediterrânica Formentera, ou a união, esta sim escrita nas estrelas e gravada no apelido, de Fátima Felgueiras à cidade homónima (Felgueiras, e não Fátima), fazem parte do nosso património político e não haverá cidadão que, ao ouvir a palavra “Gondomar”, não imagine o altissonante major Valentim Loureiro a distribuir, com uma generosidade imperial, varinhas mágicas e moinhos de café pelos seus munícipes.
Em princípio, não haveria combinação mais incongruente, inesperada e, talvez por isso mesmo, estranhamente feliz, do que a de Pedro Santana Lopes com a Figueira da Foz. É uma daquelas misturas agridoces, para não dizer obscenas — género ananás e pizza ou Orquestra Filarmónica de Berlim e Scorpions — que o tempo e o uso acabam por caucionar criando, mais do que uma sobreposição bizarra de conceitos, uma amálgama em que os componentes iniciais já não se distinguem um do outro: o Casino da Figueira fica em que rua de Santana Lopes? Cinha Jardim chegou a ser casada com a Figueira da Foz? Para quando a repavimentação de Santana? E aquela vez em que a Figueira da Foz abandonou um estúdio de televisão? Quando o antigo primeiro-ministro, ex-presidente da Câmara de Lisboa, ex-presidente do Sporting e ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (Santana, a figura política que mais vezes ressuscitou, só descansará quando for ex de si mesmo) anunciou a intenção de se candidatar novamente à Câmara da Figueira da Foz, muitos portugueses ficaram na dúvida: é Santana Lopes que se candidata à Figueira ou é a Figueira que se candidata a Santana?