Luís Marques Mendes atribuiu este domingo à noite “a uma atitude de uma certa arrogância” e ao facto de sentir “as costas quentes” os motivos para o primeiro-ministro não querer remodelar o Governo para já, ainda que nas sondagens a maioria dos portugueses se manifeste a favor de uma remodelação. As observações foram justificadas por uma referência ao caso concreto de Eduardo Cabrita, o ministro da Administração Interna que “só se mantém porque é amigo pessoal” do primeiro-ministro, e pela análise ao cenário político atual, nomeadamente por Marques Mendes considerar que António Costa não ter uma “oposição que lhe crie problemas”.
Referindo-se à entrevista concedida pelo líder do Executivo ao Expresso, e no seu habitual espaço de opinião na SIC Notícias, o comentador considerou que Costa é conhecido por ser “um político hábil”, mas não um político “corajoso” – “e os ministros que saem tendem a ficar furiosos com o primeiro-ministro” – sublinhando que “mais cedo ou mais tarde” o primeiro-ministro “há-de remodelar”.
“Vai ter de acontecer”, insistiu Marques Mendes, para quem “quanto mais tarde pior”. “Quanto mais tarde se remodelar, mais difícil será encontrar pessoas de prestígio e qualidade para ingressarem no Governo”, concluiu.
Também sobre Eduardo Cabrita, o comentador destacou “duas contradições que esta semana ficaram muito evidentes”, uma envolvendo a morte do cidadão ucraniano no Aeroporto de Lisboa, em 2020, e a outra o acidente com o carro do ministro, que vitimou uma pessoa.
Lembrando que, no primeiro caso, as responsabilidades criminais foram apuradas, “com a condenação judicial de três inspetores” e também as disciplinares, com a expulsão da função pública de um diretor do SEF, Marques Mendes afirmou que “as responsabilidades políticas do ministro continuam sem ser assumidas”.
Quanto ao acidente, “quase dois meses volvidos, há um silêncio que não é aceitável”, acrescentou o comentador. “Ainda não se pode saber qual a velocidade a que seguia o carro do ministro?”, perguntou. “E o inquérito que a GNR está a fazer ao caso vai durar até à eternidade?”
Pandemia e vacinação
Marques Mendes comentou também o início da vacinação dos jovens com 16 e 17 anos, num fim-de-semana que se revelou “um sucesso”, o que para o comentador prova que “ao contrário do que se afirmava, os jovens querem ser vacinados”. Em matéria de vacinação, disse ainda, “somos um excelente exemplo na Europa e no mundo”.
Sobre a entrevista à SIC do responsável pela task force da vacinação, Marques Mendes classificou-a de “pragmática, sensata e muito genuína”, sublinhando já alguns dos resultados do trabalho do vice-almirante Gouveia e Melo e sua equipa: “Deu confiança aos cidadãos”, pelo “rigor e o profissionalismo desta operação”, e “reforçou e muito o prestígio das Forças Armadas”.
Ainda sobre a pandemia, a propósito de Portugal ter atingido este sábado um milhão de infetados, o comentador deixou um curto balanço, referindo como “momentos baixos, as falhas de comunicação e avanços e recuos em várias decisões” e como momentos altos, “bem mais importantes”, “a cooperação institucional entre o Presidente da República e o Governo; a dedicação e a competência dos profissionais de saúde; e os notáveis avanços da ciência com a descoberta das vacinas”.
No plano internacional, Marques Mendes referiu-se à situação no Afeganistão, para considerar que “o que vai suceder no futuro com esta vitória dos talibãs só pode ser um enorme desastre”.
Em causa, disse, “o sério risco de o país voltar a ser um santuário do terrorismo internacional” e também o de a Europa enfrentar “uma nova onda de refugiados”, provocada pela saída em massa de afegãos aterrorizados com a violência talibã.
Ao lembrar que “muita gente nos EUA e fora pensava que Biden iria reverter a decisão de Trump” em relação à retirada das tropas norte-americanas, o que não aconteceu, o comentador sublinhou que “o Afeganistão pode ser uma mancha séria” no mandato do atual Presidente dos Estados Unidos.