O ministro da Defesa admitiu, esta terça-feira, em entrevista à SIC-N, que, na discussão parlamentar que se segue na especialidade sobre a polémica reforma da estrutura superior das Forças Armadas, pode haver "algum ajustamento" e a "a introdução de alguns elementos", embora, na sua opinião, "não tenha visto muitas que tenham cabimento". João Gomes Cravinho, criticado por dois Presidentes da República e quase todos os ex-chefes de Estado-Maior, disse que os atuais chefes já "ofereceram alguns contributos que ajudaram a melhorar o projeto final".
Sobre as limitações sentidas no comando superior, que fizeram sentir a necessidade de concentrar mais poderes no chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (CEMGFA), o ministro deu um exemplo de forma velada. Para envolver os militares no combate à pandemia, foi obrigado a fazer um despacho: "Os portugueses admiram e respeitam o que as FA fizeram no combate à pandemia: resulta de um despacho que fiz em outubro, que antecipa esta resposta, em que tudo o que é pandemia fica centralizado no CEMGFA. E houve, a partir daí um contributo dos três ramos com um comando único e claro", afirmou.
Num contexto em que é acusado de não ter dialogado com os militares mais experientes, na reforma, admitiu as negociações prévias com Ângelo Correia, responsável do PSD pela área da Defesa. "Sim, o PSD é um parceiro fundamental, atendendo à importância que tem no Parlamento. E pelas responsabilidades governativas que teve ao longo dos anos. Antes de submeter a proposta, fui entender qual era o pensamento do PSD e verifiquei que havia convergência suficiente".
Sobre as críticas dos antigos chefes militares (negou que os atuais tivessem manifestado mal-estar) que agitaram a semana, João Gomes Cravinho não sacou da linguagem musculada que tem usado. E disse não desvalorizar "a experiência" dos mais críticos: "Houve reflexão, mas não houve concordância", até porque "nunca houve uma reforma nas FA que fosse totalmente pacifica e tranquila, em que todos estivessem de acordo". E agora o Governo tem um apoio parlamentar que contrasta com a posição dos ex-chefes de Estado-Maior.
Sobre a possibilidade de adotar um modelo mais próximo ao espanhol que um almirante e um general admitiu como possível ao Expresso, o ministro explicou que Espanha tem uma "integração mais profunda" através de um modelo que em Portugal não seria possível por razões constitucionais.