Nem Eduardo Cabrita nem Francisca Van Dunem. Para Francisco Rodrigues dos Santos, o ministro da Administração Interna e a ministra da Justiça já deviam ter posto os respetivos lugares à disposição de António Costa. O presidente do CDS aproveitou a audiência desta segunda-feira com o Presidente da República acerca da renovação do estado de emergência para falar do "estado do Governo", no qual disse ser preciso fazer uma remodelação. Pouco depois, quando se soube que a titular da pasta da Justiça tinha sido contrariada pelo diretor-geral da Política de Justiça, o líder centrista defendeu que chegou a hora de apresentar "imediatamente a sua demissão".
"Não se compreende como é que que o ministro da Administração Interna ainda está em funções", explicou, à saída do Palácio de Belém, Rodrigues dos Santos, que elencou os casos em que o governante tem estado envolvido - com a morte de Ihor Homeniuk à cabeça - para vincar que Cabrita "é um embaraço nacional".
Sobre Van Dunem, deixou duras críticas relativas à escolha de José Guerra para procurador europeu (mesmo com elementos do currículo forjados). A tese de Rodrigues dos Santos é simples: "Houve incompetência ou fraude." E qualquer uma das hipóteses "só pode conduzir" a que a ministra "dê um passo em frente" e ponha "o lugar à disposição" do primeiro-ministro. "Trata-se de um ataque severo às regras mais elementares de decência e da verdade. A ministra da Justiça tem de ser coerente com os seus atos", reforçou, antes de apontar o dedo ao "nebuloso contexto" e ao "manto de suspeição" que existe sobre Van Dunem.
O presidente do CDS voltou à carga quando se soube que o diretor-geral da Política de Justiça desmentiu a versão de Van Dunem sobre a nomeação do procurador europeu. Miguel Romão, "no comunicado da sua demissão publicado no site da DGPJ, deixa claro que a informação que fundamentou a escolha do magistrado José Guerra, foi preparada na sequência de instruções recebidas e era do integral conhecimento do Gabinete da Ministra da Justiça", realçou Rodrigues dos Santos, numa reação por escrito enviada aos jornalistas.
"Esta nota desmente a Ministra da Justiça, que garantiu à RTP que desconhecia o teor da carta enviada e culpou os serviços, que por sua vez vêm agora informar que se limitaram a cumprir ordens. Só neste Governo Socialista é que responsabilidade política nunca é do ministro, é sempre dos subalternos", criticou, salientando ainda que António Costa não pode deixar a Justiça "sob suspeita de favorecer os amigos de quem governa, de prestar informações falsas para favorecer um magistrado em detrimento de uma colega, alegadamente incómoda, considerada mais qualificada por um júri internacional para um cargo europeu".
Para Rodrigues dos Santos, este episódio "é de tal modo degradante para o Estado de Direito Democrático, que fere a reputação e a credibilidade da presidência portuguesa da UE". "Para proteger o bom nome de Portugal e preservar a dignidade da Justiça, a ministra só tem uma opção: apresentar imediatamente a sua demissão", conclui o líder dos democratas-cristãos.
Quanto ao assunto que o levou a Belém, Rodrigues dos Santos confirmou que o CDS voltará a abster-se na votação parlamentar sobre o Estado de Emergência, por recusar passar "cheques em branco" ao Governo, isto é, por desconhecer que medidas serão adotadas ao abrigo de um novo período de exceção.
À saída da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente centrista advogou que o plano de vacinação deve dar prioridade aos mais idosos e pediu prudência às pessoas e às autoridades públicas de saúde: "O que se espera é que se cumpram as previsões otimistas, mas sem criar expectativas demasiado otimistas." Pelo meio, notou que "não é crível" que o calendário definido pelo Executivo seja cumprido e defendeu que as Forças Armadas já deviam ter sido chamadas para colaborar "na logística" da vacinação.
Notícia atualizada às 16:42 com o comunicado de Francisco Rodrigues dos Santos