Política

"Nem cheques em branco nem nova troika". Costa e Sanchéz esperam acordo na Europa este mês

Portugal vai apoiar a espanhola Nadia Calviño para o lugar de Mário Centeno no Eurogrupo. No lado interno, Costa afasta cenário de crise política: "Não passaria pela cabeça de ninguém".

NUNO VEIGA

António Costa e Pedro Sanchéz estão alinhados na mensagem: o essencial é haver acordo para a retoma da economia europeia e sem novas condicionalidades, em resposta aos chamados "países frugais" que exigem que o dinheiro a libertar pela Europa seja mais através de empréstimos do que por transferências directas. Para os dois governantes, o essencial é haver acordo já em Julho. Na frente interna, António Costa desvaloriza que o orçamento suplementar tenha sido aprovado com a abstenção do PSD, e afasta o cenário de crise política: "A última coisa que passaria pela cabeça é num momento tão difícil, tão difícil, acrescentar crise política que já é suficientemente complicada".

Os pormenores serão depois detalhados. Tanto António Costa como Pedro Sanchéz, que estiveram reunidos esta tarde em São Bento, defendem que "o mês de Julho é o mês para o acordo para a Europa". Os dois recusaram-se alinhavar quais as "linhas" vermelhas do bloco que representam para que esse acordo seja alcançado e concentram-se nas linhas já desenhadas pela Comissão Europeia. Certo é que ambos recusam uma receita passada: "A proposta da Comissão Europeia é particularmente inteligente porque não propõe um cheque em branco nem uma nova troika", sintetizou António Costa.

O primeiro-ministro português defendeu que reforçar as condicionalidades para que cada país aceda ao dinheiro não faz sentido e que este "não é o momento para desenharmos linhas vermelhas é o momento para abrir vias verdes". O que isto quer dizer é que há pontos sagrados, quer para Espanha quer para Portugal, que não sejam alterados, mas que de resto assumem debater. "Não pode haver corte na Coesão nem na Política Agrícola Comum", disse Costa, mas quanto ao quadro financeiro plurianual é possível debater "se é um pouco mais ou um pouco menos". O próximo quadro pode reduzir de tamanho nas negociações, uma vez que é colocado no mesmo pacote de discussão do plano de retoma.

O plano, disse Costa, não pode ser "poucochinho" e tem de ser "suficientemente robusto" para enfrentar os feitos da pandemia, uma discussão que será retomada no próximo Conselho Europeu.

O presidente do governo espanhol alinhou pelo mesmo discurso relembrando até a importância da PAC nesta altura em que é preciso reforçar a autonomia alimentar. E frisou que a posição espanhola é a de que a proposta da Comissão Europeia é equilibrada: "Estamos de acordo com esta visão e dimensão e no equilíbrio entre transferências e empréstimos. O tempo para gerir todos estes recursos é uma das principais preocupações e elementos a preservar", disse.

Numa nota mais política, Sanchez frisou que "a unidade salva vidas, empresas e emprego e reforça o projecto europeu. Sei que vai ser uma negociação difícil, mas temos de chegar a algum tipo de acordo", disse.

Um dos pontos que vai estar em discussão vai ser a forma como este programa de retoma funcionará, para Costa, o "modelo de governação" deverá passar pelas regras do Semestre Europeu, ou seja, "cada país propor o seu programa em função das suas necessidades especificas" sendo depois apreciadas pela Comissão Europeia.

"A última coisa que passaria pela cabeça num momento tão mas tão difícil é acrescentar crise política", diz Costa

Depois de no fim de semana ter reforçado a ideia que não mudará de parceiros políticos apesar de o Orçamento Suplementar ter sido aprovado com a abstenção do PSD. "Não há menor das dúvidas e não vejo como pode ser alimentada qualquer dúvida", disse no final do encontro com Pedro Sanchéz quando questionado sobre o facto de em Espanha haver um governo com apoio alargado e por cá, na última sexta-feira ter havido alterações nas relações políticas.

"Ninguém pense que a solução deva ser um bloco central, seria desproteger a democracia" e haver alternativa é "o melhor antídoto contra o populismo", disse reforçando que definiu um rumo quando ganhou as eleições legislativas de 2015 e que é esse o caminho que quer seguir.

Tendo em conta o atual momento, reforçou a ideia "a última coisa que passaria pela cabeça é num momento tão difícil, tão difícil, acrescentar crise política que já é suficientemente complicada", disse. Para a retoma da economia, "precisamos de uma base política alargada", reforçou.

Portugal vai apoiar a espanhola Nadia Calviño para substituir Centeno no Eurogrupo

O primeiro-ministro assumiu esta tarde que vai apoiar a candidatura da ministra espanhola Nadia Calviño à presidência do Eurogrupo. A decisão foi anunciada formalmente por António Costa depois de um encontro com o homólogo espanhol. António Costa disse que o apoio não se devia apenas a razões políticas, porque normalmente Portugal apoia Espanha e Espanha apoiar Portugal, mas por causa das capacidades da ministra espanhola e porque ambos defendem uma estratégia comum de desenvolvimento económico e financeiro da zona euro.

Pedro Sanchéz mostrou-se "optimista" com as respostas que tem obtido de outros países "não só progressistas" como do grupo do Partido Popular Europeu à candidatura de Nadia Calviño ao lugar de Mário Centeno. O primeiro-ministro espanhol não se quis alongar sobre o assunto, uma vez que esta é a semana decisiva. O Eurogrupo reúne-se na próxima quinta-feira, onde será a eleição da nova presidência.

Os dois governantes mostraram que querem "relançar" a relação interrompida por causa da pandemia e por isso marcaram a próxima cimeira Portugal-Espanha para os meses de Setembro ou Outubro na cidade da Guarda. Em cima da mesa vai estar uma estratégia de desenvolvimento transfronteiriço.