Política

Marisa Matias é a favorita no BE para as presidenciais mas fator Ana Gomes condiciona

Marisa Matias é o nome apontado para repetir um bom resultado, mas a socialista pode baralhar as contas à esquerda

António Pedro Ferreira

Se na televisão, no Twitter e nos jornais não aparecesse de forma tão regular uma socialista chamada Ana Gomes, e se os apoios a ela não se somassem apesar de nem sequer haver uma intenção assumida de se candidatar, o Bloco de Esquerda poderia ficar descansado. Quando o assunto são as eleições presidenciais do próximo ano, os bloquistas têm um nome na cabeça: a eurodeputada Marisa Matias, que nesta candidatura seria uma repetente, continua a ser uma das figuras mais bem colocadas do partido para disputar a corrida presidencial e conseguir um resultado honroso, depois dos 10% de 2016. O problema é que Ana Gomes continua a ganhar apoios à esquerda — não exclusivamente no PS — e, se acabar por decidir avançar, poderá condicionar a posição do BE... absorvendo parte do espaço em que o partido desejaria ganhar votos.

Dentro do BE, o nome de Marisa é referido como “um quadro muito bem visto” ou até a “mais forte candidata” no espaço bloquista. Se dúvidas houvesse, foi o fundador Francisco Louçã quem as desfez ao apontar diretamente à eurodeputada, uma “figura extraordinária” de uma geração que deve consolidar-se. Os argumentos a favor de Marisa são óbvios: há quatro anos, foi a mulher mais votada de sempre numa candidatura presidencial (muito acima dos 4,2% da socialista Maria de Belém). Por isso, parece pacífico dentro do partido assumir que poderia (tentar) repetir o feito.

Mas o contexto mudou. De 2016 para 2020, apareceu André Ventura, até agora o único candidato assumido. E Ana Gomes tem nesse campeonato uma vantagem, uma vez que fala com frequência de temas como Justiça e combate à corrupção e por isso é vista como um possível “tampão”. Neste cenário, seria mais arriscado para Marisa avançar contra uma candidatura que recolhe apoios não necessariamente apenas no PS, expondo-se ao perigo de conseguir um resultado abaixo do de há quatro anos. No BE recorda-se que até agora Ana Gomes não se mostrou disponível para avançar e que o contexto não é o mais favorável a uma candidatura “unificadora” da esquerda (em Belém não existe um Cavaco Silva para combater, por exemplo e Marcelo não funciona como uma cola eficaz para convencer a esquerda a ir a votos junta). Louçã chegou a considerar que uma candidatura da socialista seria nesta altura uma forma de “oportunismo” político. No final de contas, resta uma dúvida: tendo em conta a hipótese de a socialista entrar na corrida, qual será a vontade de Marisa?