Política

Difamações “reles”, conflitos de interesses e “ameaças à democracia”. As polémicas de Nuno Artur Silva

Novo secretário de Estado destaca-se pela ligação abruptamente terminada com a RTP ou pelos comentários sobre a venda da Media Capital à Cofina. Já prometeu pôr termo ao que o Conselho Geral Independente da estação pública considerou um conflito de interesses, há pouco mais de um ano

Foto António Pedro Ferreira

A lista de novos membros do Governo é longa: ao todo, são 70 governantes, mais do que os que compuseram qualquer Executivo português na história da democracia. Mas há uns nomes que sobressaem mais do que outros. É o caso de Nuno Artur Silva, o novo secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media - uma secretaria de Estado que também é novidade, sob alçada do ministério da Cultura - e que foi, desde logo, um dos maiores destaques neste elenco cuja tomada de posse estará por dias.

Há várias explicações para isto, porque são várias as polémicas em que o novo governante esteve envolvido - e várias aquelas em que poderia ainda estar, já como membro de Governo, mas que já prometeu resolver ainda antes da tomada de posse.

A primeira tem a ver com a ligação de Artur Silva à Produções Fictícias, produtora que fundou em 1993 e na qual continua a ter uma participação. Um problema que resolverá a tempo de tomar posse, já veio garantir ao “Público” - “No momento em que tomar posse como secretário de Estado, já não serei acionista da Produções Fictícias e consequentemente do Canal Q”, cita o jornal. Mas que lhe trouxe outras complicações no passado.

É que já em 2015, quando entrou para a RTP como administrador responsável pela área dos conteúdos, Nuno Artur Silva tinha prometido terminar a ligação à produtora, vendendo a sua participação, algo que nunca chegou a acontecer. O caso acabou, em 2018, com o seu afastamento do canal público. Na altura, o Conselho Geral Independente da estação apresentava como argumento a “irresolução do conflito de interesses entre a sua posição na empresa e os seus interesses patrimoniais privados”. Já Nuno Artur Silva reagia à notícia queixando-se de estar a ser alvo de uma “campanha difamatória, reles, miserável e sem escrúpulos” com o intuito de o afastar da RTP.

Com a sua nomeação para a secretaria de Estado, o fundador da Produções Fictícias volta assim a estar ligado à RTP, embora desta vez, defende António Feijó - presidente do mesmo Conselho Geral Independente - não exista conflito de interesses, porque “o secretário de Estado não vai ter infererência na gestão direta da empresa”. Em declarações ao “Público”, vai aliás mais longe e considera esta uma “excelente notícia”, até porque nunca estiveram em causa as competências de Artur Silva e sim a sua ligação a uma produtora privada.

Não é o único assunto que pode seguir o governante até ao seu novo gabinete: apesar de a venda da Media Capital (a empresa que detém a TVI) à Cofina (dona do Correio da Manhã) não estar nas mãos do Governo, Nuno Artur Silva tem à sua responsabilidade o setor dos media. E sobre este negócio já teve muito a dizer, inclusivamente na semana passada, quando escreveu no “Diário de Notícias” para defender que a conjugação desta situação com a elevada abstenção do eleitorado e a eleição de André Ventura como deputado como pode vir a ser “no futuro próximo a maior ameaça à democracia portuguesa”.