António Costa não diminui a pressão. Não para já, pelo menos. Mesmo depois de Rui Rio e Assunção Cristas terem garantido que rejeitariam um diploma que reconhecesse na íntegra o tempo de carreira dos professores que esteve congelado, o primeiro-ministro insiste que tem ouvido PSD e CDS a dizer "tudo e o seu contrário" e, como tal, aguarda para ver o que reservam as votações.
Em entrevista à TVI, a primeira que deu desde que ameaçou bater com a porta, o primeiro-ministro assegurou que, se se confirmar o primeiro (e agora muito improvável) cenário, não terá mesmo outra saída : "O Governo não terá outro remédio senão demitir-se". Declarações que surgem em contra-ciclo depois dos desenvolvimentos mais recentes à direita e à esquerda do PS.
Depois do all-in de António Costa, PSD e CDS decidiram recuar e fazer das “salvaguardas financeiras” um ponto de honra nas propostas que vão levar ao Parlamento. Os partidos à direita querem deixar na lei que o reconhecimento do período que esteve congelado (para lá dos quase três anos que o Governo se propõe a reconhecer) estará sempre dependente das condições financeiras do país em cada momento. À esquerda, tal como o Expresso já antecipou, Bloco de Esquerda e PCP dizem que essa condição é inaceitável e que, como tal, não alinharão com o recuo de sociais-democratas e democratas-cristãos. O (des)cruzamento destas vontades inviabilizará o diploma aprovado na última quinta-feira.
Mesmo assim, o líder socialista prefere manter todos os cenários em aberto. "O meu desejo é que não haja qualquer alteração ao decreto que o Governo aprovou [dois anos, nove meses e 18 dias recuperados] que se mantenha compatível com situação orçamental do país, que permita assegurar aos professores os mesmo que aos outros corpos especiais e manter a credibilidade do país”, afirmou António Costa.
"Professores podem votar todos contra mim. Olhe, tenho pena"
Sem nunca atacar diretamente os parceiros de esquerda, que reconheceu terem sido coerentes, António Costa apontou todas as críticas a PSD e CDS, insistindo no argumento de que a aprovação de um diploma desta natureza poria em causa todo o esforço de consolidação feito nos últimos anos. "Quem deu grande cambalhota foi o PSD e o CDS”, sugeriu o socialista.
Confrontado com a principal crítica de que foi alvo, a de que terá procurado criar uma "crise artificial" para inverter um mau momento político do PS, Costa defendeu-se, insistindo que não procurou "criar uma crise política, mas sim evitar uma crise orçamental e de credibilidade do Estado português".
Quanto ao facto de ter dramatizado como nunca nesta legislatura, apesar de ter enfrentado outros momentos politicamente bem mais sensíveis para o Governo, como os incêndios de 2017 ou o assalto aos paióis de Tancos, António Costa fez questão de separar as águas: “Quando há um problema um primeiro-ministro resolve-o e não foge e é julgado por isso. Nesta caso, o problema não depende do primeiro-ministro mas sim de outros órgãos de soberania".
A terminar, e quase em jeito de desabafo, Costa deu por perdido o voto de muitos professores. "Os professores podem votar todos contra mim. Olhe, tenho pena. Até posso achar que é injusto. Mas eu não vou criar ilusões". Numa ideia: o reconhecimento integral do tempo de carreira que esteve congelado é incomportável - hoje e no futuro.