Política

12 horas à espera, saturação de rede e burocracias: relatório confirma falhas do SIRESP em 2016

No ano passado, no incêndio do Sardoal, "mais de 50% dos meios a combate ficaram sem comunicações de rádio" e foram necessárias "quatro horas" para perceber por que razão antena móvel não funcionava. SIRESP (operadora da Rede Nacional de Emergência e Segurança)admite "saturação da rede"

RAFAEL MARCHANTE / Reuters

O sistema de comunicações SIRESP falhou nos incêndios do ano passado no Sardoal, de acordo com documento do Ministério da Administração Interna (MAI) datado de 18 de abril de 2017, a que o Expresso teve acesso. Entre o momento em que uma das estações base deixou de funcionar e começou a ser usada a estação móvel passaram 12 horas - este é um dos dados relevantes que mostra os documentos do SIRESP, PSP e MAI sobre aquele incêndio.

Uma das razões pelas quais o processo foi demorado tem que ver com o manual de procedimentos e a burocracia existente que atrasou a tomada de decisões e que o MAI exigiu que fosse revisto. "O ocorrido resultou principalmente da inexistência de um procedimento de decisão relativa ao desligamento da estação base", lê-se.

O circuito de comunicações caiu às 18h21 do dia 23 de agosto de 2016 e apenas às 6h05 do dia seguinte foi possível repor a ligação na zona de Fontes com recurso a uma estação móvel.

Um relatório do SIRESP, anexo ao documento do MAI, reconhece casos de "saturação da rede", recomenda a redução do números de utilizadores em situações de emergência, bem como "evitar efetuar chamadas privadas em situação de emergência" e "assegurar a disciplina nas comunicações, destacando-se utilização de chamadas curtas e objetivas e a utilização da rede apenas em caso justificado".

"Não deixando de sublinhar que apesar da situação extrema do sinistro não ocorreu a quebra total das comunicações, pode-se garantir que deste evento se retiraram os devidos ensinamentos e que numa próxima situação idêntica a resposta dos meios operacionais das comunicações SIRESP será mais rápida e eficaz", lê-se no texto assinado pelo secretário-geral, Carlos Palma. "Acordou-se com a SIRESP que em situações futuras, sempre que seja iniciado o processo de ativação de uma EB móvel, a SIRESP terá uma atitude proativa, questionando de imediato o Comando Operacional relativamente à necessidade de desligamento das estações base fixas que assegurem a cobertura de zonas coincidentes com as zonas cuja cobertura será assegurada pela estação base móvel. De igual forma, o Comando Operacional terá uma atitude proativa junto da entidade responsável pela coordenação dos efetivos no teatro de operações", acrescenta sobre o caso da substituição de estações.

O secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, admitiu este fim de semana que "houve falhas momentâneas de comunicação" durante o dia de sábado que afetaram as diferentes forças presentes nos locais, nomeadamente bombeiros e militares da GNR.

Já em 2014, o presidente do Conselho Português de Proteção Civil, João Paulo Saraiva, tinha alertado que se não tivesse havido falhas do SIRESP podia ter-se evitado a morte de dois bombeiros em Carregal do Sal. "Se o sistema funcionasse, os gritos de um dos intervenientes para tentar alertar aquela equipa não seriam gritos, seriam comunicações via rádio. E os meios aéreos também não tinham contacto, não tinham forma de alertar aquela equipa", disse. "O sistema de comunicações não acautela a segurança dos que diariamente trabalham em proteção civil nem das populações em geral", alertou o CPPC em comunicado.