Numa conversa franca e bem-humorada com Carla Quevedo e Matilde Torres Pereira, Abigail Smith relata as peripécias dos dez anos que já vive em Portugal. Considera que “há muito estereótipo e informação falsa que chega até cá” sobre as pessoas do Sul dos Estados Unidos. Conterrânea de Rosa Parks, vê a questão do racismo no Sul como “uma conversa aberta” que não existe noutras zonas do país, e afirma que “a presença de um assunto permite uma conversa que noutras partes se varre para debaixo do tapete”.
Outro estereótipo que existe é sobre as estrangeiras em geral. “Há uma percepção de que admitimos coisas que pelos vistos as portuguesas não admitem”, aponta. “Quando praticava triatlo, havia muitas bocas e tentativas de engate por pensarem que eu tinha uma sexualidade que estava ‘fora da história deste país’… lamento desiludir os homens portugueses”, diz, “mas somos mais ou menos iguais”.
Persiste também a ideia de que as americanas terão mais poder económico. Abigail mudou-se para o Ribatejo por causa dos “preços proibitivos” da habitação em Lisboa e porque tinha de se sustentar financeiramente enquanto apostava numa carreira desportiva. Isso não impediu que, agora que está a organizar o casamento com o seu cavaleiro ribatejano, lhe chegassem orçamentos astronómicos por causa do seu “sotaque lixado”.
Neste episódio de As Mulheres Não Existem, houve também tempo para contar a história de Calamity Jane, para debater o artigo “Marriage of the Minds”, sobre Agnes Callard, e recomendar a coleção primavera-verão da designer portuguesa Constança Entrudo.