“Consigo reconhecer o meu privilégio na minha falta de privilégio”, afirma, acrescentando que teve sorte no seu percurso, uma vez que as distrações eram muitas nos anos 90 a estudar em Lisboa. Apercebeu-se ao longo da vida académica e profissional de que os negros e especialmente as mulheres negras eram quase inexistentes nas equipas hospitalares e nos institutos internacionais. “Quando chego olho e já sei que estão ali um, dois, três”, observa. Não sofrer o problema leva a que não se perceba que existe. Mais do que falta de empatia, haverá nos que decidem uma enorme crise de imaginação?
Tem dupla nacionalidade, cabo-verdiana e portuguesa, e quando era criança brincava aos exploradores com o seu grupo de amigos. A mãe queria que fosse médica mas optou pela enfermagem e após 14 anos no Hospital de Dona Estefânia deixou a profissão e voltou à base da Biologia que a interessava, não para salvar o mundo, mas para poder formular um problema intelectual: “As pessoas pensam que ser enfermeira é uma coisa, mas na verdade às vezes era médica, outras recepcionista, outras relações públicas, outras assistente social, às vezes polícia...” Concluiu dois mestrados, um em Saúde Pública e o outro em infeção por VIH-SIDA. Atualmente, estuda a proteína que está na base da única vacina aprovada contra a malária e que tem uma eficácia reduzida. A determinação e o foco no trabalho que Sara Baptista desenvolve leva-nos a esperar que o seu estudo possa um dia contribuir para o desenvolvimento de vacinas mais eficazes de prevenção da doença.
Falámos ainda de Anna Wessels Williams, pioneira norte-americana no estudo das doenças infecciosas e que isolou a estirpe da difteria. Recomendámos a exposição no Rijksmuseum, em Amesterdão, de Vermeer, pintor de mulheres, em que os homens são vistos como intrusos, e a canção “More Than A Woman” dos Bee Gees, cujo título vai ao encontro (de alguma forma) do título deste podcast.