Orçamento do Estado

Catarina Martins recusa país em duodécimos e acusa Governo de chantagem “inaceitável”

A coordenadora do Bloco falou das quatro prioridades para alterar o Orçamento e deixou um recado importante: o partido nunca mudou de sentido de voto entre a generalidade e a votação final (ao contrário do PCP), disse, em entrevista ao "Observador"

Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, no debate do Estado da Nação de 2020
TIAGO MIRANDA

Apesar de ter sido o deputado bloquista José Manuel Pureza a avançar pela primeira vez com a hipótese, o Bloco de Esquerda nem quer ouvir falar num país governado com base em duodécimos por falta de acordo no Orçamento do Estado - muito menos num país mergulhado numa crise política por a esquerda se ter juntado "à direita", como disse ontem o primeiro-ministro na entrevista à TVI. “Acho inaceitável. Agora, cada vez que o PS não negoceia diz que a esquerda se juntou à direita? Isto não é sério em democracia”, respondeu Catarina Martins em entrevista ao Observador, esta terça-feira.

O Bloco definirá a sua posição relativamente à votação na generalidade (marcada para dia 28 de outubro) no próximo domingo, dia 25. Por agora, continua a garantir que, “como está”, o OE não tem condições para ser viabilizado. Falta perceber se a ronda negocial desta semana trará avanços que permitam a passagem do OE na generalidade e depois, se lá chegar, na votação final global. Nesta entrevista, Catarina Martins deixa uma pista: o Bloco nunca mudou de sentido de voto entre os dois momentos. É uma diferença relevante em relação ao PCP, que no Orçamento Suplementar, em maio, deixou o documento passar na generalidade mas acabou por votar contra.

A horas de mais uma ronda negocial com o Governo (o Bloco, tal como PCP, PAN e PEV, tem reunião marcada para esta noite), a coordenadora bloquista fez questão de “desmontar a chantagem da crise política”. “Ninguém está aqui para deitar a toalha ao chão. Há uma forma terrível de fazer política nos momentos difíceis, que é arranjar pretextos para falhar. Espero que não seja isso [que António Costa está a fazer]”, avisou.

Quanto às negociações, a líder bloquista falou nas quatro áreas “prioritárias” que tem definido para chegar a acordo com o Governo, parecendo suavizar a sua posição em relação ao Novo Banco: se o Bloco tem rejeitado que possa haver uma transferência de dinheiro através do Fundo de Resolução, mesmo que esse dinheiro seja emprestado pela banca privada, desta vez o ênfase esteve sobretudo na necessidade de haver uma auditoria antes de qualquer injeção.

De resto, na nova prestação social, o Bloco insiste em tornar a condição de recursos mais abrangente e alargar o prazo do apoio; no SNS, volta a defender a criação da carreira de técnico superior de Saúde e a aposta em tornar as carreiras mais atrativas; e no emprego quer alterações à lei laboral, garantindo que nesta matéria as recusas têm sido sempre do PS. Desvalorizou ainda as propostas dos socialistas para um acordo mais prolongado nesta matéria: não foi isso que o PS “pôs em cima da mesa”, garantiu a coordenadora bloquista.