O presidente do Chega, André Ventura, desafiou esta quinta-feira o Governo a iniciar negociações para um entendimento prévio sobre o Orçamento do Estado, exigindo reformas estruturais em áreas como a agricultura e a legislação laboral e recusando qualquer papel de muleta do executivo.
Durante uma visita à feira Agroglobal, em Santarém, Ventura afirmou ter enviado uma proposta ao gabinete do primeiro-ministro, Luís Montenegro, com o objetivo de "dar um sinal ao país de estabilidade política" e de que "há condições para uma mudança à direita". "O Chega quer ser uma garantia de confiança e estabilidade. Não queremos assistir ao drama de todos os anos, em que o orçamento pode cair e o Governo também", declarou, sublinhando que o partido está disponível para negociar, mas não para "ser fantoche ou muleta, como o CDS ou a Iniciativa Liberal".
Entre as exigências do Chega estão o aumento estrutural das pensões, uma redução fiscal para as empresas e medidas concretas para o setor agrícola, nomeadamente no combate à escassez de água e aos incêndios.
Ventura criticou ainda a atuação do Governo na gestão dos fogos florestais, acusando o executivo de ter estado "ausente" e de ter gerido "desastrosamente" a crise dos incêndios.
Sobre a legislação laboral, o líder do Chega rejeitou qualquer reforma que implique perda de direitos, nomeadamente nas áreas do luto gestacional e da amamentação, e defendeu um "equilíbrio" entre proteção dos trabalhadores e dinamismo económico.
"O país precisa de mais natalidade, de trabalhadores sólidos e qualificados. Não podemos ser um país de precariedade", afirmou, acrescentando que o Chega não aceitará reformas que "ataquem as mães portuguesas" ou que "transformem o mercado de trabalho numa selva".
Ventura disse estar aberto ao diálogo com o Governo, inclusive fora do âmbito do orçamento, mas avisou que "se a grande reforma laboral for tirar direitos às mães ou facilitar despedimentos indiscriminados, não há caminho".
A visita à Agroglobal ficou ainda marcada por críticas ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a quem Ventura acusou de realizar "mais de 1.500 viagens à custa dos contribuintes", incluindo deslocações que considerou "desnecessárias", como visitas a exposições ou festivais.
Questionado sobre o voto contra a deslocação do Presidente da República à Alemanha e o lapso em que referiu tratar-se de um "festival de hambúrgueres", quando na verdade se tratava de um evento dedicado à cidadania, André Ventura atribuiu o erro a uma má tradução na folha de votação parlamentar, mas manteve a crítica ao chefe de Estado por, alegadamente, realizar viagens desnecessárias à custa dos contribuintes.
"O Presidente da República deve fazer o mínimo de viagens possível. Os contribuintes não são para pagar passeios", afirmou, acusando ainda a SIC de fazer um "péssimo serviço à democracia" por, alegadamente, não escrutinar suficientemente o chefe de Estado.