Exclusivo

Clara Ferreira Alves

Não necessariamente as notícias

Os casos de corrupção nos dinheiros de Pedrógão já nos tinham ensinado tudo sobre a ética e a verticalidade dos quadros e autarcas portugueses

As notícias dos jornais e telejornais portugueses, sérios, são um espelho do país. Em outros lugares, as notícias são de diferente estilo e dimensão. Oscilações ideológicas e geoestratégicas, os altos e baixos da economia, as negociações políticas internas e externas e respetivas intrigas, a nova praxis mundial assente na falta de educação, as modas e lazeres e os múltiplos assuntos idiotas que parecem ocupar as notícias e que aparecem à cabeça dos mais lidos. No “The New York Times”, qualquer título sobre a dieta e a forma física ou sobre o autoaperfeiçoamento e o método de superar o trauma, qualquer trauma, aparece logo no topo da lista, superando o tsunami e a tragédia internacional. Superando, pasme-se, a morte do panda. A cosmética e a saúde, a falta dela, são mais importantes do que o terrorismo no Ceilão e a guerra no Iémen. A atenção americana é curta e dirigida exclusivamente ao umbigo. Não espanta que, quando as tropas especiais foram parachutadas no Afeganistão, levassem na equipa um especialista de estudos árabes, pensando que no Afeganistão se falava árabe, visto Osama bin Laden ser árabe. Impecável lógica do Pentágono. Nas séries de televisão, mesmo as mais caras e bem produzidas, o deserto do Sara e as dunas servem para tudo, paisagens africanas, paisagens asiáticas, paisagens exóticas onde não vegeta um grão de areia. No “The Guardian”, o consultório sentimental e os sites para acasalamento rápido são obrigatórios, bem como o artigo feminista radical e o artigo esquerdista radical. Por cima, as verdadeiras notícias.

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