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Opinião

Heróis de guerra

As sondagens e os testemunhos dos jornalistas relatam-nos a existência de uma clara maioria, mesmo entre as famílias dos reféns em poder do Hamas, favoráveis à ofensiva terrestre sobre Gaza, ainda que tenha como desfecho quase inevitável a morte de todos eles

O imperador Frederico II, do Sacro Império Romano-Germânico, que passou quase todo o seu reinado em guerra (chegou a participar pessoalmente numa Cruzada), disse um dia, num momento de lúcida reflexão: “Se os meus soldados pensassem, não restaria nenhum nas fileiras.” Esta semana, inscrevendo-se no cortejo a Jerusalém dos mesmos dirigentes ocidentais que aqui há tempos desfilavam em Kiev — e pela ordem protocolar estabelecida: primeiro os Estados Unidos, depois a Inglaterra e a seguir os vassalos da União Europeia — Macron lá foi também oferecer a sua solidariedade, na defesa dos “valores comuns” que nós, ocidentais, teremos com a Israel de Benjamin Netanyahu e os seus ministros ortodoxos, executores mandatados da vontade do profeta Abraão. Mas fez mais o Presidente francês: sem uma palavra sobre o futuro dos palestinianos, propôs uma coligação militar do Ocidente — e das democracias, presumo — contra os terroristas muçulmanos do Hamas: uma nova Cruzada, enfim.

Desde que o mundo é mundo, desde que é invocável o valor da civilização contra a barbárie ou as guerras santas dos fiéis contra os hereges, ou qualquer outro invocado justo pretexto, que é insaciável a vontade de sangue e morte dos grandes do mundo. A única diferença relevante é que dantes combatia-se nas guerras a pé e a cavalo, com espadas e lanças, e agora combate-se com uma tão sofisticada e tão cara panóplia de armas que, à falta de outros motivos mais nobres, a guerra é sempre uma imperdível oportunidade de negócios para a mais rentável indústria mundial, a do armamento — como o explicou o ex-Presidente Eisenhower e como o vimos, por exemplo, na metódica destruição aérea de Belgrado.