Numa tarde do princípio do Verão passado fui esperar a minha filha à estação de comboios de Faro, num luminoso dia em que, excepcionalmente, nenhum dos 12 sindicatos da CP — Comboios Parados tinha decretado greve. Enquanto consumia os despiciendos 25 minutos de atraso do comboio, quis ir à casa de banho da estação, mas estava fechada — ao que parece há muito, muito tempo, segundo me informaram no decrépito bar anexo. Agora é preciso ir lá fora, a um contentor que faz as vezes de casa de banho e cuja chave está na posse de um “segurança” que anda por ali. E por ali andei eu sem dar com o senhor, até que finalmente tropecei nele, e o diligente “segurança” abriu-me à distância a porta da latrina unissexo a que na Estação de Faro chamam “lavabos” ou coisa que o valha. Enfim, lá vem o Alfa Pendular, essa maravilha fatal da nossa idade, que demora talvez menos 5 ou 10 minutos do que o “Foguete” ou o “Rápido” da minha infância a fazer Lisboa-Faro ou Lisboa-Porto, mas agora cobrando uma “taxa de velocidade” para justificar a estonteante média de 90 km/h, sacudindo-nos como sacos de batatas e enjoando-nos como batatas-doces. Em Faro, o Alfa pode chegar na Linha 1 ou na Linha 2, separadas por uns 100 metros, e não chega mais de três vezes ao dia, nos dias sem greve. Atenta, a funcionária com tão intrincada missão informou-nos no altifalante de que iria chegar na Linha 1, mas, azar, chegou na 2. Enfim, nos dias que correm é sempre um alívio para os passageiros desembarcarem de um comboio da CP, seja qual for a linha ou o atraso com que chegam. E, no caso, apesar de o ar condicionado ter estado avariado, o bar lhes parecer uma cantina do Terceiro Mundo e os passageiros, a grande maioria estrangeiros, terem desembarcado como quem chega ao Burkina Faso. No grande destino turístico de um país que sobrevive graças ao turismo! Esta CP — Comboios Parados é, além de tudo o resto, uma vergonha nacional.
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