As eleições antecipadas apanham a maioria dos partidos surpreendentemente impreparados.
De um lado, PSD e CDS vivem em tumulto interno. A ânsia de poder é grande e por isso as disputas são violentas, de contornos quase tribais. Mas a contenda resume-se a isso mesmo, à luta pelo poder. Não se discutem projetos, propostas ou uma ideia para o país. A escolha da liderança resume-se a diferenças de estilo e personalidade. De projetos políticos, quase nada.
No PSD, em particular, de onde sairá um candidato a primeiro-ministro, é confrangedor ver que não existe qualquer proposta para o país. Oscilam entre o vácuo e as generalidades. Rio não tem programa; Rangel convocou agora o Passismo para começar a pensar nisso.
Do outro lado, PCP e BE temem a penalização eleitoral por terem dissolvido a ‘geringonça’ e criado a oportunidade para a direita voltar ao poder, repetindo a experiência que levou Passos e Portas ao Governo em 2011.
Afinal, no confronto eleitoral que se aproxima, os portugueses escolherão entre uma solução política de direita, com Rio ou Rangel à cabeça, e a de centro-esquerda protagonizada por António Costa. Será o resultado das eleições e os eventuais acordos que se venham depois a estabelecer a determinar qual deles será primeiro-ministro.
No atual contexto político, parece claro que a direita só poderá aspirar a governar com o apoio da extrema-direita xenófoba. Nada, porém, que atrapalhe a sua sede de poder, como se viu com o Governo dos Açores.
À esquerda as possibilidades parecem mais vastas e dependerão da nova correlação de forças que se venha a estabelecer no Parlamento.
Uma maioria reforçada e estável do PS assegurará certamente melhores condições de governabilidade para prosseguir as políticas que deram bons resultados nos últimos anos. Mas o PS, democraticamente, aceitará e interpretará os resultados que saírem das urnas.
Uma maioria menos expressiva poderá redundar num acordo com várias configurações possíveis, tanto à esquerda, como ao centro — veja-se o posicionamento do PAN no debate e votação do Orçamento do Estado.
Tal exigirá que os partidos saibam interpretar os resultados eleitorais, contribuindo para criar soluções viáveis que correspondam politicamente à expressão da vontade popular. O caminho que se abriu em 2015 abre possibilidades que ampliam a democracia portuguesa. Seria incompreensível que os partidos não soubessem fazer uso dele.
Porque o que se trata nestas eleições, afinal, não é de uma disputa eleitoral entre a esquerda e o centro-esquerda, pois é nesse campo político que se podem construir as soluções políticas que permitem conciliar os avanços sociais com o progresso económico. Trata-se, isso sim, da escolha entre uma solução política progressista, que provou funcionar e melhorar a vida dos portugueses, e uma direita instável que não tem projeto nem rumo sequer para si, quanto mais para o país.
Agora que o país tenta recuperar dos dois piores anos das nossas vidas, o que está em jogo é demasiado sério para voltar a entregar o Governo à direita dos cortes e da austeridade.