Israel anunciou esta quinta-feira a revogação do estatuto diplomático dos representantes da Noruega junto da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), em resposta às medidas "unilaterais e anti-israelitas" do Governo norueguês, incluindo “o reconhecimento de um Estado palestiniano, a adesão ao processo contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça [TIJ] e declarações graves de altos funcionários noruegueses”.
"Aqueles que nos atacam e seguem uma política unilateral contra nós pagarão um preço", afirma o ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, na carta enviada à embaixada norueguesa em Telavive.
O embaixador norueguês em Israel, Per Egil Selvaag, foi convocado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, tendo-lhe sido entregue uma nota diplomática informando a Noruega da reação israelita, e que lhe revogará o estatuto diplomático dentro de sete dias.
A embaixada norueguesa acolhe um grupo de oito diplomatas, cujas funções visam representar o país junto da Autoridade Palestiniana, tendo Katz ordenado o corte “imediato” da ligação com aquela entidade. “Esta medida é particularmente dolorosa para a Noruega, que tenta envolver-se o mais possível na questão palestiniana e preside à conferência dos países que doam dinheiro à Autoridade Palestiniana”, declarou o ministro Katz.
"[A decisão] terá consequências nas nossas relações com o governo de [o primeiro-ministro israelita, Benjamim] Netanyahu. Estamos a examinar as medidas que a Noruega tomará para responder à situação criada pelo governo de Netanyahu", afirmou o ministro norueguês dos Negócios Estrangeiros, Espen Barth Eide, num comunicado.
"A Noruega é, e sempre será, amiga de Israel e do povo israelita. Ao mesmo tempo, a Noruega criticou claramente a ocupação, a forma como a guerra em Gaza foi conduzida e o sofrimento que causou à população civil palestina", sublinhou o ministro norueguês, que convocou uma representante israelita para manifestar o desacordo.
Autoridade Nacional Palestiniana e União Europeia criticam declarações de ministro israelita sobre matar palestinianos à fome
O Governo palestiniano pediu ao Tribunal Penal Internacional (TPI) uma ordem de prisão contra o ministro das Finanças israelita, o ultraconservador Bezalel Smotrich, por ter defendido, na segunda-feira, a morte à fome dos dois milhões de habitantes de Gaza.
O ministro israelita disse que "poderia ser justificado e moral" Israel bloquear a ajuda humanitária e, consequentemente, "provocar a morte pela fome de dois milhões de civis" até ao regresso dos reféns, mas admitiu que tal nunca seria aceite pela comunidade internacional. “O humanitarismo em troca de humanitarismo é moralmente justificado - mas o que é que podemos fazer? Vivemos hoje numa determinada realidade, precisamos de legitimidade internacional para esta guerra”, disse Bezalel Smotrich, citado pelo jornal ‘The Times of Israel’.
As declarações do ministro, que é também um colono na Cisjordânia, são "uma expressão direta das mais horríveis formas de fascismo" e "o reconhecimento da adoção de uma política de genocídio", denunciou o governo da ANP num comunicado.
A União Europeia (UE) também condenou as declarações do ministro israelita, considerando-as "ignóbeis" e exigiu esclarecimentos sobre alegações de tortura e abusos sexuais numa prisão.
"Deixar civis à fome deliberadamente é um crime de guerra [...], isto é além de ignóbil", dá conta um comunicado do alto representante para os Negócios Estrangeiros cessante, Josep Borrell. "Demonstra, mais uma vez, o desprezo [de Israel] pela lei internacional e os princípios básicos da humanidade", sustentou.
OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:
⇒ Um alegado ataque dos rebeldes Huthis do Iémen teve como alvo um navio no estratégico estreito de Bab el-Mandeb, que liga o golfo de Áden ao Mar Vermelho, adiantou a unidade de Operações Marítimas Comerciais da Marinha Britânica. “O navio e a tripulação estão em segurança e o navio está a dirigir-se para o próximo porto de escala”, acrescentou. Os Huthis por vezes demoram horas ou até dias a reconhecer os seus ataques, enquanto reivindicam outros que aparentemente não aconteceram.
⇒ O Comando Central dos Estados Unidos confirmou o envio de aviões de combate F-22 para a sua zona de operações, que inclui vários países do Corno de África, Golfo Pérsico e Ásia Central, justificada pela necessidade de responder a eventuais ameaças do Irão e aliados.
⇒ O exército de Israel ordenou a evacuação de parte dos arredores orientais da cidade de Khan Yunis, em Gaza, como prelúdio para uma nova operação militar contra o Hamas. “As FDI [Forças de Defesa de Israel] agirão vigorosamente contra estes elementos. Para vossa segurança, devem evacuar estas áreas imediatamente”, pode ler-se na mensagem do porta-voz árabe das FDI, Avichay Andraee.
⇒ O Governo libanês voltou a trabalhar no reforço do seu plano de contingência para uma eventual escalada do conflito com Israel, mantendo simultaneamente contactos diplomáticos para tentar evitar uma guerra aberta com o país. O primeiro-ministro, Najib Mikati, participou numa série de reuniões para "rever os preparativos dos ministérios, dos dirigentes libaneses e de instituições competentes para o caso de haver alguma emergência", indicou a presidência do Conselho de Ministros num comunicado.
⇒ Pelo menos 15 pessoas foram mortas e várias feridas num novo bombardeamento israelita contra o campo de refugiados de al-Bureij, centro da Faixa de Gaza, já anteriormente alvo de diversos ataques do Exército de Israel. De acordo com testemunhos, o ataque centrou-se em particular numa habitação situada no campo, e o número de vítimas mortais pode aumentar nas próximas horas, indicou a agência noticiosa palestiniana WAFA.
⇒ Uma investigação da organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) denunciou um ataque perpetrado pelo exército israelita em Gaza em dezembro de 2023 a uma residência civil, que matou sete pessoas da mesma família e ainda um homem cego. Num relatório divulgado, a organização de defesa e promoção dos direitos humanos, com sede em Nova Iorque, refere que o ataque, em que uma das vítimas mortais era uma mulher grávida e que deixou ferida uma criança de cinco anos, foi feito com granadas e com tiros de metralhadora, devendo ser considerado e tratado como "um crime de guerra". “Não há desculpa para os soldados invadirem uma casa cheia de civis e dispararem sem precaução”, disse Belkis Wille, diretor associado de crise, conflito e armas da Human Rights Watch.
⇒ O exército israelita garantiu desconhecer o incidente que vitimou um trabalhador humanitário depois de a organização World Central Kitchen (WCK) ter denunciado na quarta-feira a morte de um trabalhador perto de Deir al-Balah, no centro de Gaza. Embora o desconhecimento, o exército abriu uma investigação preliminar.
⇒ O líder dos rebeldes Huthis do Iémen, Abdelmalek al-Huthi, reiterou as ameaças de resposta ao ataque israelita ao porto de Hodeida, controlado pelo movimento xiita apoiado pelo Irão, afirmando que a retaliação é "inevitável". O líder rebelde argumentou que o tempo necessário para a resposta dos Huthis e dos aliados regionais do Irão a Israel é "puramente tático".
⇒ Cinco pessoas foram detidas por suspeita de envolvimento no ataque que causou sete feridos contra uma base militar no oeste do Iraque, utilizada pela coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, adiantaram hoje as autoridades iraquianas. O comunicado não forneceu mais detalhes sobre os suspeitos e se estavam afiliados a algum grupo.
⇒ O exército israelita anunciou a morte, num ataque realizado na Faixa de Gaza, de Nael Sakhl, um dirigente do Hamas na Cisjordânia ocupada. Num comunicado, o exército israelita descreveu Sakhl como "um importante terrorista" e disse que o dirigente do Hamas foi morto em 24 de julho, numa operação conjunta com a agência de segurança Shin Bet, na Faixa de Gaza.