Guerra no Médio Oriente

Documentos secretos de Israel: Irão transmite documentário que revela passaportes e dados de 190 especialistas israelitas

Documentos iranianos expõem alvos militares e especialistas israelitas, acusações chegam à AIEA

Numa rua de Teerão, celebra-se a assinatura do acordo nuclear, a 14 de julho de 2015
KAVEH KAZEMI / GETTY IMAGES

O Irão revelou na quarta-feira à noite documentos confidenciais sobre os programas militar e nuclear de Israel que terão sido utilizados para coordenar ataques contra alvos israelitas durante a guerra de 12 dias em junho.

O ministro da Inteligência iraniano, Esmaeil Khatib, disse que o Irão obteve os documentos numa das operações mais complexas dos serviços secretos do país, segundo a agência de notícias espanhola Europa Press.

Os documentos foram divulgados num documentário transmitido pela televisão pública iraniana, intitulado "O Covil da Aranha".

Incluem dados pessoais, moradas e ligações profissionais de cerca de 190 especialistas israelitas ligados a programas de armamento.

Foram exibidas cópias de passaportes como prova, bem como informações sobre a localização de instalações militares, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

A televisão estatal mostrou também imagens que parecem ter sido filmadas clandestinamente e que, segundo o canal, provêm do interior da central de Dimona, no sul de Israel.

A AFP não conseguiu confirmar de forma independente as alegações da TV iraniana.

No documentário surgem ainda fotografias que mostram o diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi, apresentadas como sendo pessoais.

Numa das imagens, Grossi parece estar a beijar uma pessoa disfarçada de Minnie, a namorada do Mickey, personagens famosos da Disney, segundo a AFP.

Desde o ataque surpresa de Israel contra o Irão em junho, que desencadeou a guerra de 12 dias, responsáveis políticos iranianos têm criticado fortemente a AIEA e Grossi, acusando-o de ser parcialmente cúmplice.

O Irão acusa a AIEA de não ter condenado os ataques israelitas, seguidos por ataques norte-americanos, contra as instalações nucleares iranianas.

Teerão considera ainda que a agência da ONU tem parte da responsabilidade no início do ataque israelita.

Alega que o ataque foi lançado em 13 de junho, no dia seguinte à aprovação de uma resolução crítica sobre o programa nuclear iraniano na sede da agência nuclear da ONU, em Viena.

Khatib disse que Teerão obteve dados sobre instalações militares e científicas de dupla utilização em território israelita, cujas coordenadas terão sido usadas nos ataques com mísseis e drones realizados em junho.

O ministro afirmou que o conteúdo divulgado no documentário representa apenas uma pequena parte do material recolhido pelos serviços de inteligência iranianos.

Khatib disse que vários cidadãos e entidades israelitas colaboraram com Teerão no acesso aos documentos, motivados por incentivos financeiros e por um profundo descontentamento com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O ministro prometeu que o Irão continuará a divulgar documentos classificados em fases futuras, reforçando a estratégia de pressão sobre Israel.

O documentário surge num contexto de crescentes tensões entre o Irão e os países ocidentais sobre o programa nuclear iraniano.

Os países ocidentais, com os Estados Unidos à cabeça, e Israel acusam o Irão de procurar obter armas nucleares, algo que Teerão nega veementemente, garantindo que o programa nuclear tem fins exclusivamente civis.

Israel, que vê neste programa uma ameaça existencial, mantém a ambiguidade sobre a posse de armas nucleares, mas segundo o Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI), o país possui 90 ogivas nucleares.

Em junho, o Irão afirmou ter obtido milhares de documentos classificados sobre Israel.

O Irão detém regularmente indivíduos apresentados como espiões.

Teerão já acusou Israel, no passado, de estar por detrás de assassinatos seletivos e sabotagens relacionados com o seu programa nuclear.

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