Guerra no Médio Oriente

Dirigentes árabes alertam para o risco de guerra em Gaza se tornar “irreversível” e alastrar-se internacionalmente: 260 dias de guerra

As crescentes tensões entre o Hezbollah e o Israel estão a motivar alertas: “um conflito regional não permanecerá regional, vai tornar-se internacional muito rapidamente” Enquanto as Nações Unidas reforçam o pedido de um embargo imediato de armamento a Israel, os Estados Unidos dizem lamentar os comentários “dececionantes” de Netanyahu sobre os atrasos na ajuda militar

Bombeiros libaneses apagam um fogo resultado de um bombardeamento militar israelita
RABIH DAHERRABIH DAHER

Dirigentes árabes alertaram para o risco real de a guerra entre Israel e o Hamas alastrar em breve para outras zonas do Médio Oriente devido à escalada de violência entre Telavive e o movimento libanês Hezbollah.

“É muito claro que se a guerra em Gaza não parar imediatamente, a guerra vai alastrar-se”, afirmou o secretário-geral e co-fundador da Iniciativa Nacional Palestiniana, Mustafa Barghouti. Vincou ainda “que é preciso exercer muita pressão sobre o Governo de [primeiro-ministro israelita, Benjamin] Netanyahu para que pare esta guerra”.

Barghouti falava por videoconferência durante um debate intitulado "O dia seguinte: segurança em Israel e Palestina" no âmbito da Conferência de Londres do Instituto de Relações Internacionais britânico Chatham House, que decorreu esta quinta-feira na capital britânica.

O embaixador da Arábia Saudita no Reino Unido, o príncipe Khalid bin Bandar Al Saud, também disse no mesmo evento que, se o conflito em Gaza continuar, receia que se "tornará irreversível" e mais longe de uma solução.

"A dada altura, vai chegar a um ponto em que o conflito se vai alastrar. E vai tornar-se regional e penso que é muito importante que todos reconheçam o perigo que temos pela frente. As pessoas esquecem-se da gravidade que isso pode ter. Um conflito regional não permanecerá regional, vai tornar-se internacional muito rapidamente", vincou.

A escalada de violência entre Israel e o Hezbollah (apoiado pelo Irão) nos últimos dias suscitou o receio de uma guerra em grande escala, nomeadamente de uma operação israelita no Líbano. Ainda esta quinta-feira, o movimento xiita Hezbollah anunciou que lançou "dezenas de foguetes Katyusha" contra uma posição militar no norte de Israel, em retaliação pela morte de um dos seus combatentes num ataque israelita no sul do Líbano.

O exército israelita confirmou que eliminou um combatente do Hezbollah num "ataque direcionado", acrescentando que era um comandante local do grupo. Também disse ter como alvo um lançador de mísseis terra-ar que "constituía uma ameaça às aeronaves que operavam sobre o Líbano na região de Rihane".

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

⇒ O Hamas acusa o exército israelita de ter detido o presidente do parlamento palestiniano, Aziz Dweik, durante uma operação na Cisjordânia. A operação resultou na detenção de três pessoas, incluindo o presidente que tinha sido libertado pelas autoridades israelitas há alguns dias. O Governo de Israel ainda não comentou esta operação.

⇒ O chefe da diplomacia do Vaticano, Pietro Parolin, desloca-se no domingo ao Líbano para tentar travar a escalada na fronteira com Israel, onde se têm registado combates entre o exército israelita e o Hezbollah libanês. A visita ainda não foi confirmada pela Secretaria de Estado do Vaticano, mas de acordo com a agência de imprensa da Santa Sé, Fides, Parolin chegará a Beirute no domingo, onde permanecerá até quinta-feira.

⇒ Os protestos em Israel têm sido constantes devido ao crescente descontentamento com a forma como Netanyahu tem conduzido a guerra. “A própria existência do Estado de Israel é o principal obstáculo ao processo de paz”, disse um rabino em entrevista ao Expresso.

⇒ Mais de 30 especialistas da ONU reiteraram o pedido de um embargo imediato de armamento a Israel. O embargo deve incluir a suspensão dos envios diretos de armas, mas também das transferências indiretas de armamento, através de países intermediários. “Neste contexto, pode considerar-se que a continuação dos envios de armas para Israel proporciona uma ajuda consciente a operações que são contrárias às normas internacionais de direitos humanos e ao Direito Internacional Humanitário”, sustentaram, num comunicado conjunto, advertindo Estados e empresas que continuam a fornecer-lho de que "arriscam ser cúmplices de crimes internacionais que possivelmente incluem genocídio".

⇒ Autoridades norte-americanas estimam que só estejam vivos cerca de 50 dos quase 250 reféns que o Hamas raptou em Israel a 7 de outubro.

⇒ Os recentes comentários do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, lamentando atrasos na ajuda militar dos Estados Unidos, são "profundamente dececionantes e certamente ofensivos", disse John Kirby, um porta-voz da Casa Branca. "Nenhum outro país está a fazer mais para ajudar Israel a defender-se" contra o Hamas, declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. Em reação às declarações, Netanyahu afirmou na rede social X estar disposto "a sofrer ataques pessoais desde que Israel receba dos Estados Unidos as armas de que necessita na guerra para a sua existência".

⇒ A Comissão do Conselho da Europa contra o Racismo e a Intolerância (ECRI, na sigla inglesa) alertou para o aumento do antissemitismo e anti-islamismo na Europa devido ao conflito em Gaza. A organização defende o "combate ao aumento do antissemitismo na Europa em resultado do atual conflito no Médio Oriente", apelando também aos governos para que tomem "medidas resolutas contra o racismo e a discriminação antimuçulmana em todo o continente".