Guerra no Médio Oriente

Mais de 50% da população de Gaza em risco de morte e fome até julho, Israel pronto para “ação poderosa” perto do Líbano: 243 dias de guerra

Relatório das Nações Unidas aponta que situação resulta do “impacto devastador do conflito em curso, das fortes restrições ao acesso de bens e do colapso dos sistemas agroalimentares locais”. Primeiro-ministro israelita diz que país está preparado para “operação muito poderosa no norte”. Estados Unidos avisam para risco de escalada. Eis um resumo do que se passou nesta quarta-feira no Médio Oriente

Rapazes palestinianos correm enquanto o fumo se espalha durante um bombardeamento israelita a leste do campo de refugiados de al-Bureij, no centro da Faixa de Gaza
EYAD BABA

Um relatório das Nações Unidas alerta que mais de metade da população da Faixa de Gaza poderá enfrentar a morte e a fome “até meados de julho”. O documento indica que a situação resulta do “impacto devastador do conflito em curso, das fortes restrições ao acesso de bens e do colapso dos sistemas agroalimentares locais”.

O primeiro-ministro israelita advertiu que Israel está preparado para “uma ação muito poderosa” na fronteira norte, onde os combates com o movimento libanês Hezbollah são diários. “Estamos prontos para uma operação muito poderosa no norte. De uma forma ou de outra, vamos restabelecer a segurança na região”, afirmou Benjamin Netanyahu, durante uma visita perto da fronteira com o Líbano.

Os Estados Unidos avisaram Israel de que uma “escalada” do conflito no Líbano comprometeria a sua segurança. “Não queremos assistir a uma escalada do conflito, que só causaria mais perdas de vidas humanas, tanto israelitas como libanesas, e prejudicaria significativamente a segurança de Israel e a estabilidade na região”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.

Outras notícias do dia:

⇒ O ministro do Gabinete de Guerra israelita, Benny Gantz, escalou as críticas a Benjamin Netanyahu, por não se ter reunido com o presidente da Câmara de Kiryat Shmona, na fronteira com o Líbano. Gantz exige que o chefe do Governo telefone para o autarca, pedindo desculpas e convidando-o para uma reunião, para abordar a situação dos moradores da área. O gabinete de Netanyahu respondeu sublinhando que a visita do primeiro-ministro à fronteira a norte foi estritamente de natureza militar e para conhecer a situação de segurança.

⇒ O exército israelita anunciou que alargou os ataques ao centro da Faixa de Gaza, onde diz ter assumido o controlo de áreas a leste do campo de refugiados de al-Bureij e da cidade de Deir al-Balah. “As tropas estão a operar contra infraestruturas terroristas subterrâneas e exteriores, e a destruir locais de lançamento de rockets. As tropas alcançaram o controlo operacional da área, eliminaram terroristas no solo e no ar e localizaram várias bocas de túneis”, referiu em comunicado.

⇒ A organização Médicos Sem Fronteiras indicou que o hospital Al Aqsa, no centro da Faixa de Gaza, recebeu pelo menos 70 mortos e 300 feridos nas últimas horas, após ataques “indiscriminados” do exército israelita, denunciando uma “situação apocalíptica”.

Hospital Al Aqsa recebe mortos e feridos
Anadolu

⇒ O Hamas insistiu que sem um compromisso firme de Israel para um cessar-fogo definitivo e a retirada total das tropas israelitas de Gaza não aceita qualquer acordo para troca de reféns por prisioneiros palestinianos. “Israel não quer um cessar-fogo e não quer resultados realistas. Por todas essas razões, transmitimos aos nossos mediadores que se deve chegar a um acordo que garanta ou confirme um cessar-fogo permanente e uma retirada completa da Faixa de Gaza”, disse o porta-voz do grupo, Osama Hamdan.

⇒ O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, anunciou que o seu partido, Otzma Yehudir, vai abandonar a coligação governamental até que tenha mais pormenores sobre a proposta de cessar-fogo com o Hamas. Gvir quer que o primeiro-ministro israelita revele os pormenores da proposta de cessar-fogo e de entrega de reféns que foi apresentada na semana passada pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

⇒ A Human Rights Watch acusou Israel do uso generalizado de munições com fósforo branco no sul do Líbano, colocando em risco a população civil. A organização não-governamental diz ter verificado o uso de munições de fósforo branco pelas forças israelitas em pelo menos 17 municípios do sul do Líbano desde outubro de 2023, incluindo cinco municípios onde munições de explosão aérea foram usadas ilegalmente em áreas residenciais povoadas.

⇒ Israel vai criar uma unidade antiterrorista para atuar nas localidades próximas da fronteira com a Faixa de Gaza, anunciou o exército israelita. Os militares israelitas revelaram que esta unidade vai chamar-se “Lotar Otef” e vai ser formada por reservistas, veteranos e antigos membros de unidades de elite que residem na zona.

⇒ A Eslovénia e a Palestina estabeleceram formalmente relações diplomáticas, depois de o país adriático ter reconhecido na terça-feira o Estado palestiniano. A ministra dos Negócios Estrangeiros da Eslovénia, Tanja Fajon, entregou uma declaração sobre o reconhecimento e o estabelecimento de relações entre os dois países ao embaixador palestiniano, Salah Abdel-Shafi.

⇒ Cerca de 800 extremistas judeus invadiram a Esplanada das Mesquitas, na Cidade Velha de Jerusalém, entoando cânticos provocatórios e sob forte proteção policial, para assinalar o Dia da Bandeira ou o Dia de Jerusalém. Por ocasião da data, mais de 3000 polícias foram mobilizados na Jerusalém Oriental ocupada e foram instalados postos de controlo militar nas principais estradas.

⇒ Milhares de israelitas, na maioria ultranacionalistas, participaram numa marcha anual realizada numa área palestiniana sensível de Jerusalém, com alguns alimentando as tensões já existentes em tempo de guerra com gritos de “morte aos árabes”. Os manifestantes reunidos em frente ao Portão de Damasco, um ponto de encontro central para os palestinianos em Jerusalém Oriental, entoaram slogans antiárabes e anti-islâmicos, dançaram e agitaram bandeiras israelitas quando a marcha começou.

⇒ Um tribunal israelita alargou por mais 45 dias a proibição de difusão da estação de televisão Al-Jazeera, na sequência de uma lei que limita as operações de meios de comunicação estrangeiros considerados “hostis”. O tribunal aceitou uma petição apresentada pelo ministro das Comunicações de Israel, Shlomo Karhi, e confirmou o encerramento dos escritórios da estação, bem como o bloqueio da respetiva página na internet e a apreensão de todos os sistemas e equipamentos.

Pode relembrar aqui os principais acontecimentos do dia anterior.