O momento mais arrebatador de uma visita ao museu do Holocausto, em Washington D.C., não é o mural final, com a conhecida citação de Martin Niemöller (“Primeiro vieram pelos socialistas e eu não falei, pois não era socialista...”), nem o instinto de cada crente murmurar uma prece ao sair dos corredores da exposição. O murro no estômago são as paredes cobertas de páginas de jornais — ingleses, franceses, norte-americanos — impressos antes de Hitler invadir a Polónia, em 1939, mas já com as políticas antissemitas do seu Partido Nazi amplamente reportadas. São o dedo, não apontado em exclusivo ao povo alemão, mas a todos os demais: “Vocês sabiam.” Todos.
A lição mais feroz do museu do Holocausto não vem, pelo menos para mim, do retrato dos campos, das locomotivas reproduzidas em tamanho real, da solução final, dos sobreviventes ou dos que sobreviveram à sua perda. Não. O que o museu nos pede para não esquecermos não é apenas o que, enquanto Humanidade, fizemos. Mas também — mas sobretudo — o que deixámos que acontecesse. O que sabíamos que estava a acontecer. As manchetes de 1934, ’35, ’36, com perseguições, guetos e fugas; com prisões, discriminações e desespero. O debate que as sociedades ocidentais travaram sobre acolher ou não acolher refugiados de famílias foragidas do Terceiro Reich; de filhos separados pelos pais para que não morressem a seu lado.
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