Médio Oriente

ONU acusa 158 empresas, incluindo de Portugal, de ligações a colonatos israelitas

A maioria das empresas apontadas tem sede em Israel, mas a lista inclui a empresa de carris ferroviários portuguesa Steconfer SA e outras no Canadá, China, França, Alemanha, Luxemburgo, Países Baixos, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos

Hebron, na Cisjordânia
Chris McGrath/Getty Images

A ONU publicou hoje uma lista atualizada com 158 empresas, a maioria das quais israelita mas que inclui também Portugal e outros países europeus, ligadas ao desenvolvimento de colonatos israelitas, considerados ilegais pelo direito internacional.

A lista atualizada do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos inclui 68 novas empresas relativamente a 2023, sendo que sete foram removidas.

A maioria das empresas apontadas tem sede em Israel, mas a lista inclui a empresa de carris ferroviários portuguesa Steconfer SA e outras no Canadá, China, França, Alemanha, Luxemburgo, Países Baixos, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.

“Este relatório sublinha a responsabilidade das empresas que operam em contextos afetados por conflitos de garantir que as suas atividades não contribuem para violações dos direitos humanos”, afirmou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, em comunicado.

Na lista constam nomes conhecidos internacionalmente, como a Booking.com, a Motorola Solutions e a Trip Advisor, que já antes estavam nomeadas.

O documento foi publicado pela primeira vez em 2020 pelo Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, em resposta a uma resolução do Conselho dos Direitos Humanos aprovada em março de 2016.

Na resolução, o Conselho pedia a criação de “uma base de dados de todas as empresas envolvidas em atividades” relacionadas, em particular, com a construção e o desenvolvimento de colonatos israelitas na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental.

A lista não é exaustiva: devido à falta de recursos, o Alto Comissariado apenas conseguiu examinar 215 das 596 empresas sobre as quais recebeu informações.

Quando a primeira lista foi publicada, em 2020, o Alto Comissariado esclareceu que a mesma “não constitui, nem pretende constituir, um processo judicial ou quase judicial”, referindo-se implicitamente aos receios israelitas de que servisse de base para campanhas de boicote.

Esta lista deveria ser atualizada anualmente, mas, na prática, a ONU não o fez, tendo apenas publicado novo relatório em 2023, sendo que esta é a primeira verdadeira atualização.

Em 2020, Israel e os Estados Unidos condenaram veementemente a publicação desta base de dados, com o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel a declarar que “é uma vergonhosa rendição à pressão dos países e organizações que querem prejudicar Israel”.

Embora a nomeação das empresas não implique sanções associadas, a agência da ONU solicita às incluídas que “tomem medidas apropriadas para lidar com o impacto adverso dos direitos humanos” das suas atividades.

A agência da ONU incentiva ainda os 11 Estados com empresas na lista a tomarem medidas.

“Devem garantir, por meios judiciais, administrativos, legislativos ou outros, que, quando ocorrem violações dos direitos humanos relacionadas com atividades comerciais no seu território ou sob a sua jurisdição, os indivíduos afetados têm acesso a soluções eficazes”, sublinhou.

As novas empresas incluídas na atualização operam principalmente em atividades relacionadas com a construção, imobiliário e mineração, sectores a que a ONU deu prioridade nas suas investigações recentes. A próxima atualização dará prioridade às do sector da segurança.

Em 2020, pouco depois de a ONU ter publicado a sua primeira versão da lista, o Governo palestiniano declarou que daria às empresas estrangeiras que operam em colonatos israelitas ilegais um prazo para cessarem estas atividades e que, caso não o fizessem, poderiam ser obrigadas a pagar indemnizações.