Médio Oriente

Recolher obrigatório decretado na Síria após violentos confrontos que já fizeram pelo menos 100 mortos

As autoridades sírias vão prolongar o recolher obrigatório até sábado de manhã na região costeira, onde as forças de segurança estão a realizar uma vasta operação, após confrontos que causaram dezenas de mortos, informou a agência noticiosa oficial

Protestos em Damasco contra as minorias pró-Assad que ainda tentam resistir pela força das armas ao novo regime instalado em dezembro de 2024
Anadolu

O novo Governo da Síria está a tentar controlar a maior insurreição desde da queda do regime de Bashar al-Assad, em dezembro passado. Grupos armados ligados ao antigo regime - muitos deles antigos soldados e oficiais - lançaram ataques coordenados na quinta-feira contra as forças de segurança e tomaram o controlo de edifícios governamentais. Pelo menos 100 pessoas já terão perdido a vida, escreve o “El País”, e os sírios têm medo de uma guerra civil.

Um responsável da segurança na província de Latakia, na costa, informou que o recolher obrigatório foi prolongado até às 09h00 de sábado (6h00 em Lisboa) na cidade com o mesmo nome, e até às 10h00 na cidade de Tartous, perto de Latakia, duas zonas onde se concentram a maioria dos apoiantes do regime de Assad, no âmbito das operações de segurança que visam os combatentes leais às forças do Presidente deposto Bashar al-Assad, acrescentou a agência oficial, a Sana.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), com sede em Londres mas com uma vasta rede de informadores na Síria, especificou que a maior parte dos mortos das forças de segurança eram originários de Idlib, no noroeste da Síria, um bastião dos rebeldes que combateram Assad durante a guerra civil que durou 13 anos.

Os tumultos estão também a afetar outras partes do país, a BBC Verify confirmou a localização de dois vídeos publicados online que mostram homens armados a disparar contra um edifício, provocando um incêndio no interior, em Homs, na quinta-feira à noite.

Dois outros vídeos verificados mostram um corpo a ser arrastado atrás de um carro em Latakia.

Apesar dos programas de apoio ao desarmamento, através dos quais os ex-militares podem entregar as armas e em troca receber uma promessa de segurança por parte dos novos soldados, muitos membros da minoria alauíta, a mesma à qual pertence Bashar al-Assad, não entregaram ainda as armas porque temem retaliações dos novos líderes, sunitas. É dessa base de homens ainda armados que estão a ser formadas estas “novas” milícias alauitas, destacadas para várias cidades e aldeias costeiras, onde as forças militares oficiais têm alvo sido alvo de emboscadas.

No final de quinta-feira, a agência noticiosa Step, sediada na Síria, informou que o exército tinham matado “cerca de 70” antigos combatentes do regime, enquanto mais de 25 outros foram capturados em Jableh e nas áreas circundantes.

O porta-voz do Ministério da Defesa sírio, o coronel Hassan Abdul Ghani, lançou um aviso aos leais de Assad que combatem em Latakia através dos meios de comunicação estatais. “Milhares de pessoas optaram por entregar as armas e regressar às suas famílias, enquanto outros insistem em fugir e morrer em defesa de assassinos e criminosos. A escolha é clara: deponham as vossas armas ou enfrentem o vosso destino inevitável”, afirmou, citado pela BBC.