Exclusivo

Guerra na Ucrânia

“Desistir da Crimeia seria politicamente catastrófico para Zelensky”: Kiev entre o risco de perder apoio dos EUA ou dos líderes europeus

O reconhecimento (jurídico) da Crimeia como russa, por parte da Ucrânia, é improvável, mas uma aceitação de facto do status quo, e talvez até de que um compromisso de não mudar as fronteiras pela força pode ser viável. Os ucranianos estão prontos para algum tipo de compromisso, mas não na medida que Trump imagina. Como pode Kiev ceder sem perder a face?

O encontro entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky, no Vaticano, durou cerca de 15 minutos
Getty Images

A imagem de Donald Trump e Volodymyr Zelensky no interior da Basílica de São Pedro — rodeados de grandeza e solenidade — é simbolicamente poderosa. O Presidente norte-americano deixou-se retratar como lhe agrada: como a figura de um “mediador” ou um “grande homem da História”. Já a “linguagem corporal de Zelensky era cuidadosa, mas respeitosa; precisa de Trump, mas não quer parecer desesperado”, descreve Christoph Bluth, analista britânico de relações internacionais e defesa da Universidade de Bradford, em declarações ao Expresso. “Trump parecia estar numa posição dominante, projetando confiança e paciência, o que sugere que ele sabe que tem influência. Mas Zelensky parece ter deixado uma impressão em Trump, e pode ter influenciado o seu pensamento.”

Aparências e narrativas são importantes para o Presidente dos Estados Unidos da América, que construiu uma retórica de resolução rápida dos conflitos. Por causa disso, após a reunião improvisada no Vaticano no sábado, à margem do funeral do Papa Francisco, gerou-se algum otimismo de que o líder ucraniano poderia ter persuadido Trump a não ceder às exigências russas de concessões territoriais ucranianas. No domingo, Donald Trump disse à imprensa que esperava que o Presidente russo “parasse de disparar, se sentasse e assinasse um acordo”, ameaçando com novas sanções a Moscovo.