Inna Bilonozhko andava à procura de emoções fortes, livros que a fizessem pensar no mundo de uma forma diferente. Já era consultora na área da publicação há vários anos, mas José Saramago nunca lhe tinha passado pelas mãos. Um dia, numa das várias tertúlias literárias em que costumava participar, um amigo falou-lhe do autor português, que na altura já era Nobel, e a descrição impressionou-a tanto que, nesse mesmo dia, mandou vir tudo o que encontrou na internet. Não era muito. E estava tudo em russo.
Exclusivo
Ler e traduzir Saramago na Ucrânia. “Não o identificamos com o comunismo, antes com o humanismo”
Quando Inna Bilonozhko descobriu Saramago a sua vida passou para dentro dos seus romances. Leu tudo o que havia disponível em russo - e depois em inglês, para completar o catálogo. No processo de descoberta da obra do Nobel português reparou que não conseguia encontrar nada em ucraniano, a sua língua materna. Foi aprender português para conseguir traduzi-lo melhor, mas mesmo assim demorou sete anos para sentir que podia mostrar ao mundo a sua tradução de “Objeto Quase”, o único livro de contos de Saramago. Falámos com a tradutora e consultora no Festival Literário Internacional de Lutsk, dedicado este ano à literatura de resistência e a escritores que viveram sob ditadura