A Ucrânia garantiu esta quarta-feira ter repelido a maior incursão russa registada em meses, ao abater um míssil de cruzeiro e 89 drones de ataque de conceção iraniana. O principal alvo foi a região de Kiev, onde foram intercetados mais de 40 aparelhos de ataque não tripulados, afirmou a força aérea num comunicado.
De acordo com o relatório da força aérea de Kiev, os drones foram lançados a partir dos territórios russos de Yeisk, Sescha, Kursk e Primorsko-Akhtarsk, todos localizados perto da fronteira ucraniana. Os drones atingiram o espaço aéreo da região de Kiev durante o início da noite e, numa segunda vaga de menor duração, pouco antes das 08:00 locais (06:00 de Lisboa).
O número “significativo” de drones trata-se de uma cilada, uma vez que não estavam carregados com explosivos, explicou o porta-voz da agência de espionagem militar, Andriy Yusov, citado pela agência Reuters. Esta manobra serviu para esgotar as defesas áreas da Ucrânia e identificar a sua localização.
Não foram atingidas infraestruturas, mas alguns destroços dos drones danificaram telhados, janelas e fachadas de edifícios residenciais. Este foi o último de sete ataques contra a capital ucraniana no mês de julho, afirmou o chefe da administração militar de Kiev, Serhiy Popko.
“Os ucranianos podem proteger completamente os seus céus contra os ataques russos quando dispõem de abastecimentos suficientes”, disse o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, numa publicação na rede social X (antigo Twitter), após o ataque.
Zelensky aproveitou ainda para pedir mais meios de defesa contra os mísseis e os aviões de combate russos. “Precisamos de decisões suficientemente corajosas dos nossos parceiros - sistemas de defesa aérea suficientes, alcance suficiente. E os ucranianos farão tudo de forma correta e precisa”, prometeu ainda.
Um apelo que surge após o líder ucraniano ter atribuído os avanços russos ao apoio militar insuficiente do Ocidente numa entrevista a vários meios de comunicação franceses. "Alguém acredita que é possível travar [os russos] se apenas três [brigadas ucranianas] em 14 estiverem equipadas?", questionou.
O Presidente ucraniano reiterou ainda que é preciso que a Rússia participe na próxima cimeira da paz, “caso contrário não chegaremos a resultados importantes”. A Ucrânia irá elaborar, até novembro, um plano que servirá de base na próxima cimeira.
OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:
⇒ António Costa, o presidente recém-eleito do Conselho Europeu, pretende desempenhar o papel de “mentor para uma solução de paz na Ucrânia”. Questionado sobre as negociações para alcançar a paz, sublinha que só Zelensky possui legitimidade para negociar diretamente com o Presidente russo, Vladimir Putin, “e essa legitimidade é uma legitimidade que nós não podemos enfraquecer, nem podemos diminuir”.
⇒ A cultura ucraniana é preservada em teatros, museus e galerias na cidade de Lutsk, no noroeste da Ucrânia. “Antes da invasão armada, a Ucrânia foi objeto de uma invasão de informação por parte da Rússia. Tentamos escolher projetos que criem a imagem de uma nação forte que tem o seu próprio rosto e que não faz nem fará mais parte de um Império Russo. Estamos a construir o nosso próprio retrato de quem somos, assim demonstramos a nossa pertença a uma civilização desenvolvida”, explicou Ruslana Porytska ao Expresso.
⇒ O número de presos políticos russos desaparecidos aumentou de quatro identificados por organizações de defesa de direitos humanos para seis. Aos nomes de Oleg Orlov, Ksenia Fadeyeva, Lilia Chanisheva e Sasha Skolichenko, foram acrescentados Ilia Yashin e Kevin Lik. Yashin foi condenado a oito anos e meio de prisão por criticar a invasão da Ucrânia, enquanto Lik, cidadão germano-russo de 19 anos, foi considerado culpado de alta traição por fotografar posições das tropas russas e enviar as imagens para "representantes de um país estrangeiro".
⇒ A Rússia iniciou a terceira etapa dos exercícios das suas forças nucleares táticas, anunciou o Ministério da Defesa russo num comunicado divulgado na rede social Telegram. Nesta fase, as tropas com armas nucleares táticas das regiões militares do sul e do centro vão realizar treinos para “manter o nível de preparação do pessoal e do equipamento das unidades para a utilização em combate das armas nucleares não estratégicas da Rússia”.
⇒ A Rússia acusou a Ucrânia de chantagear a Hungria e a Eslováquia pelo bloqueio do trânsito de petróleo russo da empresa Lukoil através do oleoduto Druzhba ('Amizade'), que abastece estes dois países da Europa central. O trânsito de recursos energéticos através da Ucrânia “converteu-se numa alavanca de manipulação para o regime de Kiev, cujas ações nessa direção são incentivadas pelo Ocidente”, disse em conferência de imprensa Andrei Nastasin, um dos porta-vozes do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
⇒ Depois de vários atrasos, finalmente os países da NATO cumpriram a promessa de entrega dos jatos F-16, que já estão na Ucrânia, avança a agência Bloomberg. O número de jatos prometidos é, contudo, inferior ao esperado. Um oficial norte-americano também confirmou à agência Associated Press, a entrega dos aviões, capazes de suprimir as defesas aéreas inimigas.
⇒ Um casal de alegados espiões russos, detido em 2022 na Eslovénia, foi condenado pela justiça eslovena a mais de um ano e meio de prisão, anunciou um tribunal de Ljubljana, que ordenou igualmente a sua expulsão daquele país. Este caso surge num momento de diversas conjeturas sobre uma possível troca de prisioneiros entre a Rússia e vários países estrangeiros. Segundo o 'site' noticioso N1, que citou fontes anónimas, os dois cidadãos russos deverão estar incluídos nesta eventual troca, aguardada "nas próximas horas entre a Rússia, Estados Unidos, Alemanha e Bielorrússia".