Guerra na Ucrânia

Zelensky evita falar de Trump e pede que EUA “não esperem por novembro” para apoiar Ucrânia

Muitos na NATO receiam que uma possível vitória do republicano nas próximas eleições presidenciais se traduza numa maior cooperação com Putin. O líder ucraniano pediu apenas que o apoio à Ucrânia não se alterasse, independentemente de ganhar Donald Trump ou Joe Biden

Volodymyr Zelensky em Washington para a cimeira da NATO
Bonnie Cash/Getty Images

Apesar de a Ucrânia estar no centro das atenções da 75.ª cimeira da NATO, a sombra de Donald Trump paira sobre o encontro. O antigo Presidente dos Estados Unidos é candidato a voltar à Casa Branca em novembro deste ano, e o seu histórico de críticas e ameaças à aliança transatlântica (e de elogios ao Presidente da Rússia) preocupam responsáveis e especialistas, por recearem um corte no apoio à Ucrânia.

As promessas de Trump no que toca à invasão russa, aliadas à ‘performance’ menos convincente de Joe Biden no último debate entre ambos, não passaram ao lado de Volodymyr Zelensky. O Presidente ucraniano está em Washington D.C. para a cimeira da NATO e, num evento na terça-feira antes de se encontrar com os líderes do grupo, foi questionado sobre a hipótese de voltar a interagir com Trump como Presidente.

Zelensky, contudo, evitou falar especificamente sobre as opiniões inconsistentes de Trump sobre a guerra. No Ronald Reagan Institute, citado pela CNN Internacional, disse apenas que não conhece “muito bem” o magnata, embora tenha mantido com ele “boas reuniões”quando este era Presidente dos EUA, entre 2017 e 2021.

“Espero que, caso o povo da América vote no Presidente Trump, a sua política sobre a Ucrânia não mude”, sublinhou.

O líder ucraniano acrescentou que “toda a gente espera por novembro”, mês em que se realizam as eleições presidenciais norte-americanas. Mas Zelensky assumiu que preferia que o apoio militar à Ucrânia, que parte tanto da vontade do Presidente como do Congresso norte-americano, não dependesse tanto dos resultados das eleições - uma opinião que terá tido em conta os vários impasses colocados pelos congressistas republicanos ao envio de armas às forças ucranianas.

“Os americanos estão à espera de novembro. Na Europa, Médio Oriente, no Pacífico, o mundo inteiro está a olhar para novembro. E, verdade seja dita, Putin espera por novembro. É altura de sair das sombras para tomarmos decisões fortes, para agirmos e não esperarmos por novembro”, apelou.

Acrescentou ainda que considera que “Biden e Trump são muito diferentes, mas ambos apoiam a democracia”, e que “Putin vai odiar ambos”.

O pedido de Zelensky não é inocente, dado o impacto que a eleição norte-americana poderá ter para o futuro da NATO e do apoio militar dos EUA pelo mundo.

Donald Trump tem sido muito franco sobre o que faria com a aliança transatlântica. Além da forte afinidade demonstrada em relação a Vladimir Putin ao longo dos anos, o ex-Presidente prometeu no último debate que acabaria com a guerra na Ucrânia “no primeiro dia no trabalho”, entendendo que a invasão terminaria através do diálogo e do consenso com o Kremlin. Além disso, também já ameaçou cortar financiamento e apoio militar aos ucranianos, chegando a criticar em comícios a forma como estes têm utilizado os equipamentos oferecidos pelos EUA.

Trump também tem atacado os aliados da NATO sobre o seu investimento em defesa militar. Quando era Presidente, chegou a ameaçar que sairia da aliança se os restantes países não se comprometessem com um investimento de 2% do PIB em defesa. E, já este ano, fez as suas declarações mais controversas sobre a invasão, despertando um coro de condenações e alertas no seio do bloco transatlântico.

“Um dos presidentes de um grande país levantou-se e disse: ‘Se não pagarmos e formos atacados pela Rússia, vai defender-nos?’. Não, não vou proteger-vos mais. Aliás, vou encorajá-los a fazerem o que quiserem. Vocês têm de pagar as dívidas”, atirou.

Curiosamente, o primeiro mandato de Trump na Casa Branca ficou para sempre marcado por uma conversa com Volodymyr Zelensky.

Em 2018, quando o seu homólogo era um comediante recentemente eleito como Presidente da Ucrânia, o então chefe de Estado norte-americano pediu a ajuda ao Governo de Kiev para desenterrar alegadas informações danosas sobre os negócios do filho de Joe Biden, Hunter, que pudessem prejudicar a imagem do democrata.

A conversa levou a um dos únicos processos de exoneração na história da Presidência norte-americana - e o primeiro de dois durante o mandato do líder de extrema-direita -, que se concluiu sem qualquer acusação formal contra Trump.