Guerra na Ucrânia

A iminente perda de ajuda dos Estados Unidos e os apelos da Europa para que o país não recue: as notícias que marcaram o 706.º dia de guerra

Em janeiro, a Ucrânia não recebeu qualquer apoio financeiro oficial. A última ajuda militar norte-americana aconteceu a 27 de dezembro e, com a possível reeleição de Donald Trump, crescem os apelos dos líderes europeus para que seja mantido o apoio à contraofensiva ucraniana

VIACHESLAV RATYNSKYI/Reuters

O Presidente dos EUA, Joe Biden, pediu ao Congresso que aprovasse um pacote de ajuda à Ucrânia no valor de 61 mil milhões de dólares (56,3 mil milhões de euros). Ainda à espera do aval dos republicanos, as negociações sobre este apoio estão num impasse. Com as eleições norte-americanas em novembro de 2024 e a possível reeleição de Donald Trump, a ajuda dos EUA à Ucrânia pode ter os dias contados.

Mike Johnson, líder dos republicanos na câmara baixa, afirmou que o novo pacote de ajuda à Ucrânia estava destinado a fracassar. Face a esta recusa, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, pediu ao Congresso, com maioria republicana, para resolver o impasse. “Sem isso, tudo o que os ucranianos alcançaram e que nós os ajudámos a alcançar estará em perigo”, declarou, numa conferência de imprensa onde esteve presente o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.

“A guerra brutal travada pela Rússia contra a Ucrânia aproxima-se do seu segundo aniversário”, disse o responsável da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que apelou à continuação do apoio ao esforço militar ucraniano. Alertou, ainda, que uma “vitória russa apenas encorajaria o Irão, a Coreia do Norte e a China”.

Os apelos crescentes à continuação da ajuda financeira e militar à Ucrânia multiplicam-se pela Europa. “Putin estava completamente errado há dois anos. Ele estava errado sobre as capacidades do seu exército. Ele estava errado sobre a resistência dos ucranianos. Ele estava errado sobre a unidade europeia. Ele estava errado sobre a força da ligação transatlântica. Devemos mostrar-lhe que está errado novamente”, apelou Josep Borell, chefe da diplomacia europeia, num artigo escrito na revista francesa L’Obs.

“A vitória da Ucrânia face à agressão russa é a melhor garantia de segurança para a Europa”, por isso é preciso “mudar o paradigma de apoiar a Ucrânia ‘enquanto for necessário’ para nos comprometermos a fazer ‘tudo o que for preciso’ para que a Ucrânia vença”, afirmou.

Também o Presidente francês, Emmanuel Macron, apela aos países europeus para compensarem um eventual impacto, se os EUA reduzirem a ajuda à Ucrânia. “Devemos organizar-nos de forma a que, se os Estados Unidos fizerem a escolha soberana de parar ou reduzir essa ajuda, tal não tenha qualquer impacto no terreno”, defendeu o chefe de Estado francês numa conferência de imprensa em Estocolmo com o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, após discutirem sua “parceria estratégica renovada” para quando a Suécia aderir à NATO.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

⇒ Tensões estão a crescer entre o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, e o líder das forças armadas, Valerii Zaluzhnyi. Após o fracasso na contraofensiva ucraniana durante o Verão, o chefe de Estado ucraniano pediu ao general militar para abandonar o cargo, mas recusou-se a fazê-lo esta segunda-feira. O Ministério da Defesa negou que, após esta situação, se procedesse ao despedimento de Zaluzhnyi, noticiou o jornal britânico The Guardian.

⇒ A Força Aérea ucraniana afirmou ter abatido 15 dos 35 drones explosivos lançados pela Rússia, durante a noite, contra o sul, centro e norte da Ucrânia, destinados a atingir “infraestruturas de energia e combustível, além de locais civis e militares”. Também durante a noite, a Rússia garantiu ter abatido 21 drones ucranianos lançados contra o país e a península anexada da Crimeia, sem mencionar quaisquer danos.

⇒ A Hungria acusou a União Europeia (EU) de “guerra ideológica” e chantagem contra o país devido ao veto em utilizar parte do fundo comunitário europeu para ajuda à Ucrânia. Após a publicação de um documento da UE, que dava conta de um alegado plano de sabotar a economia húngara, caso continuasse o veto ao pacote de ajuda à Ucrânia, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán garante que se a decisão for colocada em prática acontecerá o "Armagedão" e promete atuar.

⇒ A Rússia adverte os EUA contra a instalação de armas nucleares táticas no Reino Unido. Os Estados Unidos planeiam instalar armas nucleares no Reino Unido devido à ameaça Rússia, uma decisão que não era tomada há 15 anos. Para Sergei Riabkov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, esta instalação só “aumentaria o nível geral de escalada e de ameaças na Europa” e “nem a segurança do Reino Unido, nem a dos Estados Unidos serão reforçadas por essa medida”.

⇒ Tatjana Zdanoka, eurodeputada da Letónia, está a ser acusada de ter trabalhado, entre 2004 e 2017, para os serviços secretos da Rússia, segundo o jornal independente russo The Insider, em colaboração com órgãos de comunicação da Estónia, Letónia e Suécia. O Parlamento Europeu abriu uma investigação interna, esta segunda-feira, assim como o grupo partidário Aliança Livre Europeia, ao qual Tatjana Zdanoka pertencia até ter saído em abril 2022, depois de ter recusado condenar a invasão russa da Ucrânia.

⇒ Os ciberataques acrescem a este conflito um “novo fator único”, o que torna as empresas privadas, como a Amazon e a Google, essenciais para defender a Ucrânia de ataques cibernéticos russos. "Sem este apoio externo adicional, teria sido muito mais difícil para a Ucrânia resistir ao nível de ataques a que assistimos", o diretor do Centro de Investigação de Estudos de Conflito, Keir Giles

Pode rever tudo o que aconteceu no 705.º dia de guerra aqui.