Svetlana Tsikhanovskaia é quem lidera, no exílio, a oposição ao regime bielorrusso. O marido está encarcerado há três anos, após ter anunciado a intenção de ir a eleições contra Alexander Lukashenko, Presidente desde 1994. Ela concorreu na vez dele, apoiada pelos políticos antirregime, entretanto presos ou exilados. A polícia deteve funcionários envolvidos na campanha de Tsikhanovskaia, na véspera do sufrágio, causando protestos massivos em Minsk.
A opositora defende, desde então, a libertação dos presos de consciência, reformas democráticas, o afastamento diplomático da Rússia, o retorno à Constituição de 1994, que limita a presidência a dois mandatos, e a organização de eleições livres. A inevitável vitória de Lukashenko consumou-se na detenção de Tsikhanovskaia após a votação.
Exilou-se na Lituânia quando a libertaram. É dali que concede esta entrevista ao Expresso, versando as relações entre Putin, Lukashenko e Prigozhin (chefe do grupo mercenário Wagner, envolvido num levantamento armado em junho), a deslocação do Wagner para a Bielorrússia, o envolvimento do país na guerra contra a Ucrânia, o endurecimento do regime, os presos políticos e de consciência, o totalitarismo que se imiscui na vida particular de cada cidadão, a resistência na clandestinidade.
Qual o papel de Lukashenko no acordo de paz entre Putin e Prigozhin?
É um mensageiro de Putin, nada mais. Lukashenko transmitiu algum recado a Prigozhin que travou a marcha sobre Moscovo. Limpou-lhe a face. Não se sabem pormenores. Lukashenko apenas cumpriu a vontade do Kremlin, é evidente. O ditador bielorrusso é vulnerável e depende do apoio de Vladimir Putin. Nem ponderou eventuais consequências, nem planeou o que fazer a Prigozhin. E agiu contra os interesses do povo bielorrusso ao convidar estes criminosos para o nosso país.