Os dois favoritos nas eleições presidenciais na Polónia, no domingo, refletem a forte polarização política no país, que deverá escolher entre o autarca liberal de Varsóvia, na segunda tentativa, e um historiador conservador independente.
Favorito nas sondagens, o presidente da Câmara de Varsóvia Rafal Trzaskowski é um europeísta assumido, à semelhança da força politica no Governo que o apoia -- a Plataforma Cívica (PO) -- com promessas de liberalizar as leis do aborto e proteger os direitos das minorias sexuais.
A eleição de Trzaskowski, após ter falhado por pouco a vitória em 2020, significaria o fim do bloqueio presidencial à agenda liberal do executivo chefiado por Donald Tusk, que tem enfrentado o poder de veto presidencial do conservador nacionalista Andrzej Duda.
Rafal Trzaskowski, de 50 anos, é oriundo de uma família de intelectuais de Varsóvia, tendo começado a atividade política a partir de 1989, na sequência da queda do Muro de Berlim.
O pai, Andrzej, foi um pianista famoso na década de 1950, quando o jazz era mal visto pelo regime comunista.
O candidato licenciou-se na Universidade de Varsóvia e mais tarde recebeu um doutoramento com uma tese sobre a reforma da UE. Estudou também em Oxford, Paris e no Colégio da Europa, perto da capital polaca.
Em 2000, trabalhou na adesão da Polónia à UE, tendo também sido deputado europeu e integrado o primeiro governo de Donald Tusk em 2013, como ministro da Tecnologia e depois como vice-ministro dos Negócios Estrangeiros.
Fala inglês, francês, italiano, russo e espanhol e a propensão para os países francófonos valeu-lhe o apelido de "Bonjour", uma provocação dos críticos que o consideram elitista.
Conquistou a Câmara de Varsóvia em 2018 e foi reeleito no ano passado, numas eleições, que, apesar de locais, marcaram o triunfo do PO nas grandes cidades contra os populistas conservadores da Lei e Justiça (PiS), no primeiro embate desde que foram arredados do governo na Polónia em outubro de 2023, ao fim de dois mandatos consecutivos.
O principal adversário de Rafal Trzaskowski é Karol Nawrocki, um historiador nacionalista de 42 anos apaixonado pelo submundo do crime, que recebeu o apoio do PiS para manter a presidência sob controlo depois dos dois mandatos de Andrzej Duda.
O slogan de campanha, "Polónia primeiro, polacos primeiro", reflete a posição sobre os quase um milhão de refugiados ucranianos que vivem no país, onde se refugiaram da invasão russa.
Embora Nawrocki tenha prometido manter o apoio da Polónia à vizinha Ucrânia, é um crítico da generosa ajuda dada aos refugiados, defendendo prioridade aos polacos nos benefícios sociais e "nas filas de espera dos consultórios médicos e dos hospitais".
Durante a campanha, pediu que fossem realizados controlos na fronteira com a Alemanha para impedir a entrada de migrantes, que alegou estarem ser rejeitados por aquele país, e exigiu que Berlim pague reparações à Polónia pela Segunda Guerra Mundial.
A duas semanas das eleições, encontrou-se na Casa Branca com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de quem é admirador e ouviu uma previsão: "Vais ganhar".
Pela mesma altura, Nawrocki foi também associado a um escândalo, depois de se ter declarado num debate televisivo contra a introdução do imposto imobiliário e dito que possuía apenas um apartamento.
Posteriormente, foi divulgado que adquirira um segundo apartamento a um idoso reformado chamado Jerzy, a quem terá prometido cuidados, mas que acabou num lar financiado pelo Estado.
O candidato conservador negou irregularidades neste caso, que envolve uma transação complexa e sob suspeita.
Nawrocki é autor de vários livros, incluindo um que foi escrito em 2018, sob o pseudónimo de Tadeusz Batyr, sobre um 'gangster' da era comunista e que causou outra polémica.
No mesmo ano, ao aparecer na televisão estatal como Batyr, com o rosto embaciado e a voz alterada, disse que a obra foi inspirada por Nawrocki, que, por sua vez, disse ter sido consultado para dar conselhos e recomendando a leitura.
Os meios de comunicação social descobriram afinal que Batyr e Nawrocki eram na verdade a mesma pessoa, o que provocou uma onda de comentários jocosos sobre a autopromoção do livro.
Nascido em Gdansk, fez um doutoramento em História antes de se tornar diretor do Museu da Segunda Guerra Mundial na cidade portuária entre 2017 e 2021.
A partir deste ano, começou a dirigir o Instituto da Memória Nacional polaco, que investiga crimes nazis e comunistas.
Os interesses de investigação incluem a oposição anticomunista polaca, o crime organizado durante a era comunista e a história do desporto.
No ano passado, a Rússia adicionou Nawrocki à lista de procurados pelos esforços em remover monumentos da era soviética na Polónia.
Nawrocki fala inglês e pratica boxe nos tempos livres.