O presidente dos Estados Unidos apelou, terça-feira, à defesa do direito ao aborto, enquanto o seu adversário, o republicano Donald Trump, prosseguiu a retórica anti-imigração. A sete meses das presidenciais de 5 de novembro, ambos venceram as primárias dos respetivos partidos em quatro estados, numa altura em que já estão garantidos como nomeados às eleições.
A campanha do democrata Joe Biden acusou o antecessor e recandidato de querer proibir a interrupção voluntária da gravidez em todo o país se regressar à Casa Branca. Os democratas lançaram uma campanha publicitária de promoção dos direitos reprodutivos um dia depois de o Supremo Tribunal do Estado da Florida ter aberto caminho à proibição do aborto às seis semanas.
O Supremo Tribunal dos Estados Unidos, de maioria conservadora, com três juízes nomeados durante a presidência de Trump (2017-21), pôs fim, há dois anos, à proteção constitucional do aborto. Desde então, vários Estados controlados pelos republicanos restringiram ou proibiram a interrupção da gravidez.
Ex-Presidente insiste no “banho de sangue”
Trump aludiu a “um banho de sangue” na fronteira, durante uma iniciativa no Estado do Michigan, em alusão à chegada de milhares de migrantes todos os meses, pelo que responsabilizou Biden. Não é a primeira vez que o milionário usa aquela expressão. Em março disse ser essa a consequência possível se perder as eleições de novembro, provocando a indignação dos democratas, que o acusaram de incitar à violência.
Desta vez, o ex-Presidente usou a imagem para atacar Biden e “os estrangeiros ilegais”, a quem, disse, não se pode chamar pessoas, mas “animais”. Trump já afirmara que estes indocumentados não são seres humanos e acusou-os de “envenenar o sangue” dos Estados Unidos, um conceito já utilizado pelo ditador nazi alemão Adolf Hitler.
Num sinal de que esta linha vai manter-se, o Comité Nacional do Partido Republicano criou o site BidenBloodbath.com (literalmente, banho de sangue de Biden). “Isto muda o país, ameaça o país, destrói o país”, prosseguiu Trump. “Destruíram o nosso país.”
Alegações de Trump não têm fundamento
Numa intervenção de 45 minutos, o antigo chefe de Estado repetiu a mentira segundo a qual outros países enviam para os Estados Unidos “prisioneiros, assassinos, traficantes de droga, doentes mentais e terroristas, dos piores que têm”. As agências de imigração do país asseguram que os que cruzam a fronteira são, na maioria, famílias vulneráveis a fugir à pobreza e à violência, escreve o jornal “The New York Times”.
Os dados não suportam a tese trumpista de que os migrantes fazem crescer a criminalidade. O antigo Presidente fala de casos mediáticos envolvendo estrangeiros que entraram ilegalmente no país, mas o Partido Democrata contrapõe que foi ele quem pressionou o seu partido a bloquear uma proposta elaborada em conjunto por republicanos e democratas para garantir a segurança nas fronteiras.
Vitórias servem para medir entusiasmo
Biden e Trump venceram, terça-feira, as primárias dos seus partidos no estado de Nova Iorque. Segundo a agência Associated Press (AP), com 58% dos votos apurados, Biden somava 91,6% do apoio na corrida democrata, enquanto Trump reunia 81% dos votos republicanos, com 52% dos votos contabilizados.
Sem adversários com visibilidade mediática e ambos já com o número de delegados necessários para serem nomeados nas convenções dos partidos, a celebrar no verão, o atual e o anterior presidentes triunfaram ainda em Rhode Island, Connecticut e Wisconsin na mesma noite. Trump teve mais de 75% dos sufrágios em todos os casos, Biden superou sempre os 80%.
Sem concorrência, o dado mais interessante será o que os números dizem sobre o entusiasmo entre os eleitores quanto à provável repetição do cenário eleitoral de 2020. A favor de Biden conta a maior participação, nos quatro estados que foram a votos, nas votações democratas do que nas republicanas. Tem sido uma constante neste ano de primárias.
Biden enfrenta oposição de ativistas que encorajam os democratas a votarem em branco, em protesto pelo apoio do chefe de Estado a Israel na guerra com o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza. Críticos republicanos de Trump ainda votam em rivais que já desistiram como forma de manifestarem o seu descontentamento.
“Precisamos de candidatos mais jovens”
Em Nova Iorque, Steve Wheatley, republicano de 70 anos, disse à AP que gostaria que houvesse mais candidatos. Votou em Nikki Haley, antiga embaixadora dos Estados Unidos na ONU, que embora tenha abandonado as primárias em fevereiro, obteve mais de 10% nos quatro estados que foram a votos terça-feira. “Precisamos de candidatos mais jovens com ideias novas para concorrer à Presidência”, afirmou Wheatley.
Theresa Laabs, eleitora de 55 anos de Kenosha, no Wisconsin, contou à AP que a sua família sente o impacto do aumento dos preços dos alimentos e da gasolina, mas indicou que votou em Biden nas primárias democratas, porque sente que o Presidente está a trabalhar para aliviar a inflação. “Entendo que o problema agora é a economia e espero que Biden continue a trabalhar ainda mais nos próximos quatro anos para tentar reduzir os preços e tornar as coisas mais fáceis para as famílias trabalhadoras”, disse Laabs.
Em termos de arrecadação de fundos, Biden e o Comité Nacional Democrata ultrapassaram Trump e os republicanos. O Presidente conquistou o recorde de 26 milhões de dólares (24,1 milhões de euros) num único ato de campanha, na semana passada, repleto de estrelas em Nova Iorque, Além de grandes nomes do mundo do entretenimento, reuniu os antigos presidentes democratas Barack Obama e Bill Clinton.