O Presidente do Brasil aterra em Lisboa com uma baixa no seu Governo, depois de ter demitido, quarta-feira, o general Gonçalves Dias, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, por participação nos ataques de 8 de janeiro contra as instituições democráticas, em Brasília, comprovada pela análise das imagens das câmaras de segurança.
Com esta demissão, Lula da Silva confronta-se com um problema de grave quebra de confiança na cadeia de comando, que remete para segundo plano a onda de choque que as suas declarações sobre a guerra da Ucrânia geraram no mundo ocidental. Até porque a aproximação entre Brasil e Rússia não começou com Lula nos seus primeiros mandatos presidenciais. E tampouco com o reconhecimento da independência do Brasil, em 1828, pelo império russo. A parceria entre Moscovo e Brasília ganhou corpo na última década do século XX, quando os Presidentes dos dois países perceberam que poderiam desenvolver uma relação comercial e estratégica. Celso Amorim, à data ministro das Relações Exteriores do Presidente Itamar Franco, visitou Moscovo em 1994, lançando as pontes da parceria que, volvidas três décadas, desencadearia críticas ocidentais às declarações de Lula.
A marca de Amorim
Diplomata e militante do Partido dos Trabalhadores, Amorim lidera a assessoria especial do Presidente, depois de ter sido ministro das Relações Exteriores de Itamar Franco (1993-95) e de Lula (2003-10). Na análise de Renato Lessa, professor de Filosofia Política, a política externa do atual Executivo tem “a marca de pensamento de Amorim”. Mas a estratégia política de se dar bem com todos os países tem momentos em que é tudo menos linear. O ex-ministro que moldou a política externa brasileira nas três últimas décadas percebeu que o mundo mudara, ainda antes de Lula tomar posse. “Em 2003, tinha muito claro o que deveria ser feito na área internacional. Hoje o mundo está muito mais complexo. É necessário reconstruir a multipolaridade, ante duas potências. Existe uma ameaça e maior consciência sobre ela: a das mudanças climáticas”, disse Amorim em outubro, ao “Radar Económico”.
Com ou sem influência de Amorim, Lula fez uma inflexão no final do encontro com o Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, terça-feira, em Brasília: “Ao mesmo tempo que o meu Governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada para o conflito”, disse, lendo o texto preparado pela assessoria diplomática.