Fruto das ações repressivas que o governo de Nicolás Maduro tem encetado contra a oposição, Edmundo González Urrutia, vencedor proclamado pela oposição das eleições presidenciais na Venezuela a 28 de julho, deixou o país na passada sexta-feira, após ter pedido asilo na embaixada espanhola em Caracas, anunciou este domingo a vice-presidente Delcy Rodriguez.
O cerco aos opositores ao regime acentuou-se nos últimos dias com ordens de detenção, mas também outras acções. As alegações de fraude eleitoral, manipulação de votos e censura durante o processo eleitoral provocaram protestos em massa por todo o país. Em resposta, as forças de segurança reforçaram a sua atuação, havendo relatos de milhares de manifestantes detidos e, mais recentemente, de um cerco à embaixada da Argentina.
Edmundo González Urrutia, antigo embaixador da Venezuela na Argentina e na Argélia, de 75 anos, foi candidato às presidenciais da Venezuela, em substituição da líder opositora María Corina Machado, desqualificada pelas autoridades e impossibilitada de exercer cargos públicos durante 15 anos.
A oposição alega que o político foi o verdadeiro vencedor das eleições. Mas, coincidentemente, o Ministério Público pediu à justiça que emitisse um mandado de prisão em seu nome: usurpação de funções, falsificação de documentos públicos, conspiração, instigação à desobediência das leis são alguns dos crimes de que é acusado.
“Hoje, 7 de setembro, deixou o país o cidadão opositor Edmundo González Urrutia, que tendo-se refugiado voluntariamente na Embaixada do Reino de Espanha em Caracas, desde há vários dias, solicitou perante este governo a tramitação de asilo político", publicou Delcy Rodriguez, na rede social Instagram.
A governante detalhou que “em conformidade com o Direito internacional, a Venezuela concedeu os salvo-condutos necessários, no interesse da paz e da tranquilidade política do país". O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, confirmou entretanto a viagem para Espanha, através do X (antigo Twitter).
Cerco na embaixada argentina e 1793 presos políticos
A oposição venezuelana denunciou este sábado um cerco à embaixada da Argentina em Caracas, onde seis colaboradores de María Corina Machado estão refugiados desde março. Segundo os relatos, agentes encapuzados e armados cercaram a sede diplomática e cortaram a energia. A AFP também confirmou a presença das forças de segurança no local.
“É assim que amanhece a sede da embaixada argentina em Caracas, cercada por agentes do regime armados e encapuzados, que também impedem o acesso dos jornalistas, embora a rua não esteja fechada”, repostou Magalli Meda, chefe de campanha de Corina Machado, no X.
Até então, a embaixada estava sob custódia do Brasil, após a Venezuela ter cortado relações com a Argentina devido a tensões sobre as eleições presidenciais que reelegeram Nicolás Maduro. Ontem, o governo venezuelano revogou a permissão de representação ao Brasil, retirando-lhe a custódia do edifício.
"A Venezuela tomou a decisão de revogar, de maneira imediata, a autorização concedida ao Governo do Brasil para exercer a representação dos interesses da Argentina e seus cidadãos em território venezuelano, assim como a custódia das instalações da missão diplomática, incluindo seus bens e arquivos", divulgou o chanceler venezuelano, Yván Gil.
De acordo com o balanço mais recente da organização não-governamental venezuelana Foro Penal, 1793 pessoas estão detidas por motivos políticos e mais de nove mil continuam "submetidas arbitrariamente" a restrições à liberdade. A ONG diz que em causa está “o maior número de presos políticos conhecido na Venezuela, pelo menos no século XXI”.