A junta militar do Níger que derrubou o presidente eleito Mohamed Bazoum denunciou, este domingo, uma ameaça “iminente de intervenção militar em Niamey” por parte da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
As declarações antecederam a realização de uma “cimeira extraordinária” da organização, este domingo, em Abuja, na Nigéria, sobre “a situação política na República do Níger”, que também é membro da CEDEAO.
“O objetivo desta reunião é a validação de um plano de agressão contra o Níger, através de uma iminente intervenção militar em Niamey, em colaboração com os países africanos não-membros da organização e alguns países ocidentais”, defendeu um comunicado lido por um membro da junta militar, Amadou Abdramane, na televisão nacional.
“Mais uma vez, lembramos à CEDEAO ou a qualquer outro aventureiro a nossa firme determinação em defender a nossa pátria”, acrescentou.
Paralelamente, nas ruas de Niamey, a capital do país, milhares de pessoas manifestaram-se em frente à embaixada francesa, em apoio ao golpe militar, antes de serem dispersadas por bombas de gás lacrimogéneo, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
Alguns manifestantes insistiram em entrar no prédio e outros arrancaram a placa com a inscrição “Embaixada da França no Níger”, pisando-a e substituindo-a por bandeiras da Rússia e do Níger.
Um dos soldados, de pé num camião, cumprimentou a multidão que gritava “Rússia, Rússia, Rússia”, “viva o exército nigerino” e “Tchiani, Tchiani, Tchiani”, o nome do presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP, a junta militar autora do recente golpe de Estado), Abdourahamane Tchiani.
As manifestações, no entanto, foram proibidas pela junta militar.
A França, aliada do Níger na luta contra o jiadismo e na ajuda ao desenvolvimento do país africano, anunciou no sábado que suspenderia esse apoio, assim como a União Europeia.
“A União Europeia não reconhece e não reconhecerá as autoridades resultantes do golpe no Níger#, escreveu no Twitter o espanhol Josep Borrell, Alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança. “A ordem constitucional tem de ser totalmente restabelecida, sem demora. Estamos prontos para apoiar as próximas decisões da CEDEAO.”
Algumas pessoas dirigiram-se também à embaixada dos Estados Unidos. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, garantiu ao Presidente deposto Mohamed Bazoum o apoio “inabalável” de Washington.
A manifestação começou com uma marcha em direção à Assembleia Nacional, com a multidão a agitar bandeiras russas e nigerinas.
Numa manifestação de apoio à junta, este domingo de manhã, em Niamey, centenas de pessoas marcharam, agitando bandeiras russas, em direção à Assembleia Nacional, segundo um jornalista da agência de notícias AFP.
O movimento civil M62, que já havia protestado contra a operação Barkhane do exército francês nas regiões do Sahel e do Saara, fez apelos à manifestação.
Duas marchas pró-golpe tiveram lugar em Niamey e Dosso (cerca de 100 quilómetros a sudeste da capital) na quinta-feira, a primeira pontuada por incidentes, antes de a junta chamar "a população à calma" e proibir os eventos.
Os antecedentes Mali e Burkina Faso
O Presidente Mohamed Bazoum foi afastado na quarta-feira à noite por militares e detido no palácio presidencial, sob a supervisão da Guarda Presidencial, cujo líder, o general Omar Abdourahmane Tchiani, foi nomeado presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), ou seja, a junta militar que promoveu o golpe.
Depois do Mali e do Burkina Faso, o Níger, até então aliado dos países ocidentais, torna-se no terceiro país do Sahel — minado por ataques de grupos ligados ao autodenominado “Estado Islâmico” e à Al-Qaeda — a viver um golpe de Estado desde 2020.