Internacional

Grant Shapps: quem é o novo ministro da Defesa britânico?

Grant Shapps já passou por uma polémica por ter um segundo trabalho sob uma identidade falsa, sobreviveu a cancro e acolheu uma família ucraniana. O novo ministro da Defesa tem no currículo pastas muito diferentes: dos transportes à segurança energética. Há quem o descreva como “muito competente”, mas também quem alerte para a sua falta de experiência na área da defesa

Simon Walker / No 10 Downing Street HANDOUT

Com a demissão de Ben Wallace do cargo de ministro da Defesa do Reino Unido, a pasta passou para as mãos de Grant Shapps, que foi rápido a atualizar o currículo. Horas depois de ter sido nomeado, esse dado já constava da sua descrição na rede social X (anteriormente conhecida por Twitter).

As reações à nomeação não são uniformes. O antigo primeiro-ministro Boris Johnson escreveu na rede social X que Shapps “é uma excelente escolha”. Em declarações citadas pelo ‘The Guardian’ o deputado conservador Tobias Ellwood descreveu-o como “muito competente e capaz”. Já o porta-voz dos Liberais Democratas, Richard Foord, escreveu que “Rishi Sunak nomeou um ‘yes-man’”.

Shapps assume a liderança do Ministério da Defesa num momento em que há guerra na Europa e já se deslocou anteriormente à Ucrânia. Agora promete apoiar o país no combate à invasão russa. “Ao começar a trabalhar no [Ministério da] Defesa, estou ansioso por trabalhar com os corajosos homens e mulheres das nossas Forças Armadas que defendem a segurança da nossa nação. E continuar o apoio do Reino Unido à Ucrânia na sua luta contra a invasão bárbara de Putin”, escreveu quando da sua nomeação.

Mas este apoio não é apenas governamental. Começou por ser dado a partir da sua casa. No ano passado anunciou que tinha acolhido uma família multigeracional ucraniana a fugir da guerra (e o seu cão): um rapaz de seis anos, a sua mãe, a avó de 75 anos. Segundo o ‘Independent’, foi o segundo deputado a receber uma família através do programa ‘Homes for Ukraine’ (Casas para a Ucrânia, em português).

Cerca de um ano depois, Shapps descreveu os novos membros da casa como “família alargada”, em declarações à ‘Sky News’. “Sempre que discutimos o que se passa na Ucrânia no governo, no fundo da minha mente ou quando chego a casa recordo-me da realidade das políticas e o que significam realmente”, afirmou. No entanto, não alterou o seu apoio à travagem da entrada de pessoas que chegam através de ‘pequenos barcos’, ainda que possam estar também a fugir de um cenário de guerra. No seu entender, “não pode haver uma situação em que haja uma forma de entrar no país por meios ilegais, como pessoas traficadas de países que já são seguros”.

Shapps tem um diploma em comércio e finanças pelo Manchester Polytechnic. Nem todas as suas batalhas foram políticas. O ‘The Guardian’ contou que foi diagnosticado com linfoma de Hodgkin quando era recém casado com Belinda, a sua mulher. Fez campanha enquanto fazia quimioterapia, mas disse de forma clara àquele jornal: “sabia que a minha batalha número um era com o cancro”.

O agora ministro da Defesa foi eleito deputado do Partido Conservador por Welwyn Hatfield em 2005 e, cinco anos depois, já se encontrava no governo, como secretário de Estado para a Habitação e Governo Local. A sua experiência acabou por passar por diversas pastas. Segundo o ‘The Telegraph’, a liderança do Ministério da Defesa será o quinto cargo ocupado por Shapps no governo no espaço de um ano: foi ministro dos Transportes, ministro da Administração Interna durante apenas seis dias ao substituir Suella Braverman, ministro do Comércio e ainda ministro para a Segurança Energética.

A organização ‘Friends of the Earth’ não lamentou a saída de Shapps do Ministério para a Segurança Energética. David Timms, líder de assuntos politicos da organização disse, em comunicado, que Shapps “parecia mais preocupado em jogar política infantil nas redes sociais do que nas sérias políticas necessárias para responder ao maior desafio dos nossos tempos”. Timms acusa ainda o antigo ministro de apoiar novas explorações de petróleo e gás contra as recomendações dos seus conselheiros climáticos.

No final de julho, o governo autorizou centenas de novas licenças de petróleo e gás, numa continuidade do apoio à indústria no mar do Norte. Shapps enquadrou o apoio como uma forma de promover “independência energética” e proteção de lugares de trabalho.

Segundo o ‘Politico’, já se viu envolvido em polémica, quando gerou atenção por manter um segundo trabalho sob o nome falso de Michael Green já depois de ter entrado para o parlamento. Em 2015, o ‘The Guardian’ noticiou que Shapps negou as acusações durante três anos – chegando mesmo a ameaçar um constituinte local com ações legais para que apagasse uma publicação no Facebook sobre o uso do pseudónimo e substituí-lo com um pedido de desculpa –, mas acabou por reconhecer que tinha um segundo trabalho.

No dia em que ocupa um novo cargo, subsistem dúvidas sobre a postura que vai adotar. Segundo o ‘The Guardian’, o antigo chefe do Estado-Maior, o general Sir Richard Dannatt disse que o novo ministro “sabe muito pouco sobre defesa” e que “vai demorar algum tempo a atualizar-se”. E cita a questão deixada por Dannat, na BBC Radio 4: “Grant Shapps vai lutar pelo seu espaço no governo ou vai entrar discretamente e jogar o jogo político?”.